As delegações da Venezuela, Cuba, Bolívia, Equador, Nicarágua e Costa Rica deixaram, nesta terça-feira, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) durante o discurso do presidente brasileiro, Michel Temer, como sinal de protesto por sua chegada ao poder após o impeachment de Dilma Rousseff. Três desses países (Venezuela, Equador e Bolívia) já haviam manifestado seu desacordo com o processo político brasileiro ao chamar seus embaixadores para consultas no mês passado.
As missões do Equador e Costa Rica na ONU confirmaram a EL PAÍS a decisão de abandonar o plenário. As outras quatro não responderam ao pedido de informação deste jornal, mas confirmaram à agência Associated Press seu boicote ao discurso de Temer.
Em comunicado, o Governo da Costa Rica explicou que, embora se sinta “muito próximo do povo brasileiro”, sua decisão de não escutar a mensagem de Temer obedece a uma dúvida de que, ante certas atitudes e atuações, o Governo brasileiro pretenda “ensinar sobre práticas democráticas”. A delegação equatoriana justificou a saída do plenário como um protesto ante a situação política do Brasil.
O embaixador venezuelano na ONU, Rafael Ramírez, disse à Associated Press que Temer é “um presidente ilegítimo, produto de um golpe de Estado. Não o reconhecemos”. Temer assumiu a presidência no início do mês, após a destituição de Dilma por parte do Senado brasileiro, que considerou que ela cometeu crime de responsabilidade ao como consequência de irregularidades nas contas públicas.
Em seu discurso de estreia na ONU, o presidente brasileiro disse que o Brasil deu um “exemplo ao mundo” através de um processos que refletem “a força das instituições sob o olhar atento de uma sociedade plural”.
A Assembleia Geral da ONU é o segundo compromisso internacional de Temer desde sua ratificação no cargo. O presidente brasileiro foi antes à cúpula do G20 em Hangzhou, na China, que trouxe um saldo positivo para o novo Governo, que conta com o respaldo específico dos maiores países e mais importantes sócios: EUA e China, e, na América Latina, seus sócios no Mercosul, Argentina e Uruguai. Analistas coincidem, no entanto, que a tarefa de consolidar a legitimidade da gestão Temer no exterior e, principalmente, dizer a que veio no curto mandato que herdou demandará um ajuste de discurso da gestão peemedebista num cenário de pouco espaço para a expansão do comércio exterior brasileiro.
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