Nenhum jogador do Corinthians representa tão bem a filosofia de Fábio Carille quanto Romero. Não à toa, o clube fez esforço para tê-lo em campo neste domingo, contra o São Paulo, depois de um amistoso com a seleção paraguaia. Ele retribuiu com gol, jogadas que levantaram a torcida e uma entrega fora do comum na vitória por 3 a 2 sobre o rival.
Romero é técnico, faz bons jogos e leva perigo às defesas adversárias. Muitas vezes, porém, abre mão disso para ajudar o time. Paulo Roberto não está 100% adaptado à lateral direita? O atacante faz o possível para dobrar a marcação. Jô está bem marcado na área? Ele mesmo se infiltra e vira artilheiro. O espírito do paraguaio norteia a equipe no Brasileirão.
Xodó de Carille – e da torcida – Romero ajuda a entender o sucesso do líder Corinthians. Solidariedade e comprometimento são as palavras. Nas vitórias sobre Vasco (5 a 2) e São Paulo, o Timão criou mais e teve volume de jogo. Por outro lado, teve defesa mais exposta. Não fosse a entrega dos homens de frente, a equipe poderia ter sofrido mais.
O Corinthians amadurece a cada jogo. O equilíbrio entre defesa e ataque será natural. O clássico mostrou, porém, que o time vai brigar por objetivos grandes. O Timão fecha a semana com nove pontos, duas vitórias em clássicos, uma fora de casa e a liderança isolada do Brasileiro.
Com a mesma formação do clássico, ainda sem Fagner e Rodriguinho, o Corinthians volta a campo na próxima quarta-feira, contra o Cruzeiro, às 21h45 (horário de Brasília), em Itaquera.
O JOGO
Preparado para qualquer sistema de jogo que Rogério Ceni apresentasse pelo São Paulo, Carille identificou rapidamente o caminho do gol. Com três zagueiros do rival plantados, a ideia foi fazer a bola girar, passar pela área e ver atacantes entrando em diagonal.
Jogadores sempre próximos, trocando passes, um apoiando o outro... O Corinthians, cada vez mais, vem se tornando um time construtor de jogadas.
– Diferente dos primeiros clássicos, em que não propusemos o jogo, contra Santos e São Paulo a gente propôs. Entrosamento, maior tempo de treino, mas o fundamental é eles se conhecerem cada vez mais. Isso está acontecendo – afirmou Fábio Carille.
Os números corroboram a tese do comandante:
É importante notar como os conceitos do técnico vêm se tornando ainda mais fortes com o tempo, o entrosamento e o entendimento dos jogadores. O gol de Romero, logo no início, surge num movimento de "facão" do atacante, que deixa Marcinho na saudade, invade a área e recebe de Marquinhos Gabriel em ótimas condições para finalizar. Jô atrai a marcação rival e abre espaço.
O segundo gol, de Gabriel, nasce em outro conceito repetido à exaustão por Carille nos treinos da semana: roubada de bola na intermediária, com campo aberto para o ataque. Jô, na velocidade, em ótima forma física, vence a marcação de Maicon e chuta cruzado. No rebote, os volantes estão na área e prontos para a segunda bola. A roubada foi de? Romero, claro.
O terceiro gol teve mais conceitos: triangulação, aproximação, troca rápida e precisa de passes. Até que a bola chega a Jô, derrubado na área por Douglas. Pênalti bem cobrado por Jadson. Contra o Vasco, foram cinco gols em 10 finalizações. No clássico, três em nove chutes. Precisão em alta.
A segunda etapa dessa construção do Corinthians, porém, tem seu outro lado. Enquanto cria mais e aumenta sua produção ofensiva, o Timão mostra defesa um pouco mais vulnerável. Assim como no jogo contra o Vasco, a concentração diminuiu em alguns momentos.
O primeiro gol do São Paulo teve impedimento de Gilberto (19 centímetros adiantado, segundo a transmissão da TV Globo). Mesmo assim, a linha formada pelo Timão não estava sincronizada. Um instante de distração, e Guilherme Arana deixou o rival livre para cabecear e marcar.
O segundo gol, de Wellington Nem, também saiu num momento de concentração baixa: 38 minutos do segundo tempo, 3 a 1 no placar, e um Corinthians que não soube matar o jogo. Menos organizado e mais afobado do que de costume, o time deixou o São Paulo tocar a bola perto do gol. Dentro da pequena área, Nem recebeu sozinho para finalizar.
Sofrer dois gols em casa é o ideal? Não, claro. Mas o Corinthians tem um ganho inestimável para a sequência do Campeonato Brasileiro. O Timão do 1 a 0, agora, tem oito gols em dois jogos. A confiança aumenta, os movimentos passam a ser automáticos, e a equipe só melhora. Falar em título soa até irresponsável, pelo menos por enquanto. Mas o Timão, certamente, estará no bolo.
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