O Carnaval que obrou tal milagre e a estiagem se tornou "coisa do passado". No Sertão, os prefeitos não economizaram dinheiro do povo com as contratações de bandas e cantores, 99,9% nacionais, enquanto nos sítios e povoados o povo, a maioria que não teve água no Natal e Ano Novo, padece, mesmo pagando todos os meses pelo líquido sagrado nas torneiras. 

Absolutamente nada contra o tríduo momesco - a festividade é necessária -, mas são flagrantes que diversos prefeitos no Sertão, a grande maioria candidatos à reeleição, têm dinheiro para afrontar seu povo sedento com banhos de jato d'água na multidão que brinca e recursos financeiros para montarem fantásticas infraestruturas de shows, alguns com distribuição de bebidas alcoólicas com o macabro propósito de que as famílias esqueçam que ele - o gestor - nada faz em prol dos sedentos.

Há quase um ano, mais precisamente em março de 2023, o governador Paulo Dantas decretava situação de emergência em 24 municípios do Semiárido alagoano, em decorrência da estiagem que tem comprometido os reservatórios hídricos locais. 

Neste começo de ano (janeiro), a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Alagoas (Semarh), com base no mesmo Mapa do Monitor de Secas, confirmou o agravamento da estiagem, citando o aumento da severidade no Alto Sertão.

O órgão estadual enumerou quais os municípios mais afetados pela seca: Piranhas, Delmiro Gouveia, Olho D’água do Casado, Pão de Açúcar, Belo Monte, Palestina, Traipu, Olho D’água Grande, São Brás, Pariconha, Inhapi, Mata Grande, Água Branca, Canapi, Ouro Branco, Senador Rui Palmeira, Maravilha, Carneiros, Minador do Negrão, Cacimbinhas, Major Izidoro, Jaramataia, Batalha, Olivença, Jacaré dos Homens, Monteirópolis, Olho D'água das Flores, São José da Tapera, Dois Riachos, Poço das Trincheiras e Santana do Ipanema. Sem exceção, todos promoveram festas antes ou durante o Carnaval.

Por outro lado, poucos têm falado, mas a chegada da concessionária Águas do Sertão na região, responsável pela distribuição de água no lugar da Casal nas áreas urbanas das cidades sertanejas, deixou valores nunca vistos antes nos cofres de cada prefeitura.

Assunto proibido pelos prefeitos para falar publicamente, tais gestores ainda não mostraram, pelo menos na grande parte das cidades, o que foi ou é feito com o dinheiro para benefício da população, que continua na fila esperando seus exames ou cirurgias, pais e alunos que sonham com escolas com profissionais formados em ensino especial ou mesmo escolas com livros didáticos, computadores e até mesmo água mineral e merenda digna para os estudantes. 

Por fim, vale a pena recordar a abertura da música de Carnaval "Hora da Razão", de Caetano Veloso, que canta:

"Se eu deixar de sofrer, como é que vai ser para me acostumar"...