A decisão unânime da cúpula do PSDB de declarar oposição ao governo do presidente Jair Bolsonaro foi vista por membros da Executiva Nacional da sigla e por parlamentares como uma forma de “marcar posição” e dar uma resposta à sociedade no momento em que o chefe do Executivo federal radicaliza o discurso contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e ataca o ministro Alexandre de Moraes, integrante da Corte, a quem chamou de “canalha”. Os tucanos não se manifestaram a favor do impeachment porque, neste momento, o partido está rachado.
“O partido repudia as atitudes antidemocráticas, truculentas e irresponsáveis adotadas pelo presidente da República em manifestações pelo Dia da Independência”, diz um trecho da nota divulgada na noite desta quarta-feira, 8. “Com a participação da Executiva e das bancadas na Câmara e Senado iniciamos o processo interno de discussão sobre crimes de responsabilidade cometidos pelo presidente da República. O primeiro passo foi o debate aberto ocorrido hoje e agora será aprofundado pelas bancadas do Congresso Nacional”, segue o texto.
Na terça-feira, 7, pouco depois do discurso de Bolsonaro a apoiadores em Brasília, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, anunciou que a Executiva Nacional se reuniria para tratar sobre a posição do partido em relação ao impeachment de Bolsonaro. A decisão pegou a bancada da Câmara de surpresa. No grupo de WhatsApp, deputaados mais alinhados ao Planalto consideraram “inoportuno” anunciar o encontro antes de consultá-los, uma vez que, caso o processo passe a tramitar, eles terão de votar no processo.
Além disso, alguns deputados acreditavam que a cúpula tucana tinha a intenção de adotar uma posição oficial sobre a destituição do presidente da República na primeira reunião sobre o assunto, o que, na avaliação deste grupo, seria precipitado. Por outro lado, a ala do PSDB que cobra maior distanciamento do Palácio do Planalto viu a iniciativa com entusiasmo. Com a decisão tomada, um integrante da Executiva Nacional ouvido pela reportagem afirmou que “o partido não produziu nenhuma novidade”, lembrando que alguns filiados, como o governador de São Paulo, João Doria, já vinham fazendo oposição ao governo federal há meses.
Para o senador Izalci Lucas (PSDB-DF), líder do partido no Senado e membro da Executiva, a decisão foi importante para esclarecer ao eleitorado que os tucanos não irão referender os arroubos autoritários de Bolsonaro, mas, ao mesmo tempo, não votarão contra pautas que podem contribuir para que o país supere a crise econômica. “Como o PSDB vota a favor de muitos projetos de interesse do país, a população acaba confundindo, as pessoas acham que, por votar favoravelmente em determinados temas, o partido é base do governo. O que não é verdade. Não é oposição ao Brasil, mas ao governo que aí está. De fato, houve muito exagero, o presidente Bolsonaro abusou, partiu para um posicionamento mais radical, em um momento em que a maior preocupação do povo é saber como o governo vai resolver as questões urgentes: os milhões de desempregados, a inflação altíssima, a crise hidríca, a questão energética. Há um trabalho conjunto dos partidos de terceira via, do centro democrático, como estão chamando, e o PSDB vai caminhar junto”, afirmou.
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