Ministro da transição e futuro chefe da Casa Civil, o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), 64 anos, embarcou na campanha de Jair Bolsonaro (PSL) em 2017, quando a maior parte do meio político era descrente da viabilidade da candidatura do capitão reformado do Exército, que acabou vencendo a eleição presidencial deste ano.
Colega de Bolsonaro na Câmara, Onyx é alinhado ao presidente eleito no perfil conservador, na defesa da propriedade privada e nas críticas ao Estatuto do Desarmamento e ao PT. O ministro da transição desafiou o próprio partido neste ano, comunicando à direção do DEM que continuaria apoiando a candidatura de Bolsonaro mesmo depois que a legenda fechou coligação com o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin.
Lorenzoni buscou apoio político ao organizar encontros de Bolsonaro com parlamentares, selecionar técnicos para confecção de um plano de governo e preparar viagens internacionais para seu candidato.
O empenho demonstrou capacidade de articulação política de Lorenzoni e o colocou no restrito círculo de confiança de Bolsonaro, que o escolheu para funções estratégicas do futuro governo.
Encerrada a eleição, Lorenzoni passou a comandar o processo de formação da nova administração e, nesta segunda-feira (5), foi nomeado ministro extraordinário do governo de transição do presidente eleito.
O futuro presidente poderá indicar até 50 pessoas para cargos temporários na equipe de transição que passou a despachar nesta segunda-feira (5) na sede do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em Brasília. São 22 gabinetes para a equipe do presidente eleito, além de sala de reuniões e auditório.
Em janeiro, Lorenzoni assumirá a chefia da Casa Civil, um dos cargos mais estratégicos na Esplanada dos Ministérios.
a Casa Civil, caberá a ele monitorar o andamento dos programas da gestão Bolsonaro, bem como articular o apoio de deputados e senadores para aprovar os projetos do Palácio do Planalto.
Político liberal
Natural de Porto Alegre, o médico veterinário Onyx Dornelles Lorenzoni se apresenta como um político “liberal”, favorável a um Estado enxuto, já que, nas suas próprias palavras, “quanto mais poder concentrado nas mãos de poucas pessoas maior a corrupção e maior autoritarismo”.
Filiado desde 1997 ao DEM (antigo PFL), Lorenzoni construiu a carreira política como parlamentar. Em 2018, foi eleito para o quinto mandato consecutivo de deputado federal, com 183.518 votos. Antes, foi deputado estadual no Rio Grande do Sul por duas vezes (de 1995 a 2002).
Na sua trajetória na Câmara, o parlamentar apresentou ao menos 107 projetos de lei, dois projetos de lei complementar e sete propostas de emenda constitucional. Ele defende a redução da maioridade penal para 16 anos e o porte de arma de fogo a servidores penitenciários.
Lorenzoni também é favorável a deixar mais clara na legislação a possibilidade de prisão em segunda instância. O Supremo Tribunal Federal (STF) já decidiu que réus com condenação em segunda instância podem ser presos mesmo que ainda tenham recursos pendentes.
Oposição ao PT
Onyx Lorenzoni chegou ao Congresso Nacional em 2003, primeiro ano da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na condição de deputado de oposição. Assim permaneceu até 2016, quando apoiou o impeachment de Dilma Rousseff, que encerrou o ciclo de governos petistas.
O antipetismo do deputado foi reforçado em livros. Em julho de 2018, ele lançou a “A Máfia da Estrela – Ascensão e queda do império petista”, terceiro livro de uma série iniciada em 2006.
No primeiro livro, Onyx abordou a CPMI dos Correios, que apurou o escândalo do mensalão do PT. No segundo, o foco ficou no julgamento do mensalão, enquanto o terceiro livro tratou da chegada do PT à Prefeitura de Porto Alegre ao impeachment de Dilma.
Na gestão de Michel Temer, com o DEM no governo, Onyx tentou manter posição independente, com votos favoráveis ao prosseguimento das duas denúncias apresentadas pela Procuradoria Geral da República contra o presidente.
Pacote anticorrupção
A trajetória de Onyx Lorenzoni na Câmara também foi marcada pela participação em comissões parlamentares de inquérito.
A figura do deputado a tomar chimarrão entre um discurso e outro tornou-se rotineira nas CPIs. No primeiro mandato, por exemplo, o parlamentar foi o sub-relator de Normas de Combate à Corrupção da CPMI dos Correios.
Em 2016, Lorenzoni foi relator na Câmara do pacote de medidas de combate à corrupção. No entanto, fez mudanças no texto, descumprindo acordo com vários partidos, o que o tornou alvo de críticas.
O deputado havia incluído no texto a previsão de punição a juízes e promotores, mas, diante do mal-estar com o Ministério Público Federal, autor do pacote, recuou e retirou esse item do relatório.
A proposta acabou desfigurada. Das dez medidas originais, quatro passaram, ainda assim, parcialmente. A matéria agora está parada no Senado.
Caixa 2
Lorenzoni admitiu, em 2017, ter recebido R$ 100 mil em caixa 2 da empresa JBS para pagar dívidas de campanha de 2014. O deputado alegou que, na ocasião, não tinha como declarar o valor na Justiça Eleitoral.
"Cabe-me, sim, com altivez, como um homem deve fazer, que assumi meu erro e pedir desculpas ao eleitor. A verdade tem que ser o caminho para o Brasil se reencontrar com aquilo que o Brasil quer, um Brasil limpo e correto, e quero dizer que essa responsabilidade será assumida diante do Ministério Público e do Judiciário", afirmou à época em entrevista à RBS TV.
Antes, em 2016, Lorenzoni se desentendeu com o senador Renan Calheiros (MDB-AL). Durante a discussão do projeto sobre abuso de autoridade, Renan o chamou de "Lorenzetti", em referência a uma marca de chuveiros, e disse que Onyx recebeu caixa 2 da indústria de armas.
Conforme registros da Justiça Eleitoral, Onyx recebeu doações legais da fabricante de armas Forjas Taurus nas campanhas de 2006 (R$ 110 mil), 2010 (R$ 150 mil) e 2014 (R$ 50 mil). O deputado apresentou queixa-crime contra Renan, mas a ação foi rejeitada pelo ministro Luiz Edson Fachin, do STF.
Armas de fogo
Lorenzoni conheceu Bolsonaro na década passada, durante as discussões no Congresso Nacional relativas ao Estatuto do Desarmamento, em 2003, e ao referendo que manteve o comércio de armas, em 2005.
Em repetidos discursos, critica o Estatuto de Desarmamento que, na visão dele, desarmou o “cidadão de bem” e deixou a sociedade “fragilizada na mão de marginais e de bandidos”.
Além dessa posição em relação às armas de fogo, o deputado também divide com Bolsonaro o apreço pela mesma passagem bíblica: "E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará". Lorenzoni tem tatuada no braço a passagem citada pelo presidente eleito em seu primeiro discurso.
Família de veterinários
Antes de ingressar na política, OnyxLorenzoni trabalhou por mais de 20 anos como clínico e cirurgião de pequenos animais. Nas redes sociais, o gosto por cachorros é demonstrado em fotos, como registros de Moana, uma golden retriever que faz companhia ao deputado em seu apartamento funcional de Brasília.
Segundo o site de Lorenzoni, ele se formou em medicina veterinária em 1976, na Universidade Federal de Santa Maria (RS) e fez curso de aprimoramento em ortopedia e traumatologia pela Universidade da Califórnia, em 1993. Foi ainda fundador e presidente do Sindicato dos Médicos Veterinários do Rio Grande do Sul (1984 -1990).
Colorado e corredor
Fora da política, Lorenzoni é descrito por amigos como um sujeito “reservado”, que gosta de aproveitar os domingos em famílias, de preferência com churrasco assado por ele próprio, seguido de um jogo do Internacional.
Colorado fanático (tem tatuagens no braço direito do símbolo do clube e da bandeira do Rio Grande do Sul), o parlamentar contribuiu com o livro “Histórias Coloradas - Os mais Interessantes relatos da alma colorada”, lançado em 2004.
Além do interesse pelo futebol, Lorenzoni pratica corridas de longa média e longa distância. Ele tenta manter a rotina de despertar ao alvorecer para correr na academia ou pela rua. Em junho passado, postou no Twitter foto da medalha que ganhou ao concluir prova de sete quilômetros em Florianópolis.
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