Cerca de 100 professores de uma escola em Hamburgo lançaram um manifesto contra a plataforma online criada pelo partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que permite que alunos denunciem professores que expressarem opiniões políticas durante as aulas.
Em carta aberta enviada através da própria plataforma, controlada pelos seis parlamentares da AfD no Legislativo de Hamburgo, os professores acusam a iniciativa de deturpar valores democráticos.
"Vocês não se furtam do cinismo ao tentar retratar isso como uma luta pela 'liberdade de opinião e por uma democracia vibrante'", afirmaram os professores da escola com 1,3 mil alunos que prioriza a inclusão e o ensino individualizado.
O líder da AfD no Legislativo da cidade-estado, Alexander Wolf, qualificou a carta dos professores como "relevadora", dizendo que se assemelha aos "cassetetes [anti-]nazistas" que impossibilitavam o diálogo.
A plataforma de denúncia lançada em Hamburgo e Berlim gerou várias condenações, em especial, de sindicatos de professores e de membros do alto escalão do governo alemão. A ministra alemã da Justiça, Katarina Barley, as descreveu como "ferramentas de ditaduras".
A ministra alemã da Educação, Anja Karliczek, defende que os professores devem ensinar com clareza aos estudantes sobre o populismo. "Os alunos devem aprender maneiras de avaliar a política de modo crítico, e por várias perspectivas", disse.
"Um professor de política deve, dessa forma, estar apto a explicar sobre as bases em que as diferentes maneiras de pensar se originam e quais paralelos podem ser encontrados na história", afirmou Karliczek.
A campanha "Escolas neutras" da AfD em Hamburgo inclui um portal online onde os alunos podem fazer denúncias. Um texto na plataforma afirma que as mensgens serão encaminhadas anonimamente para as autoridades escolares que deverão avaliá-las e adotar potenciais ações disciplinares.
Na carta, os 106 professores da escola Max Brauer de Hamburgo afirmam que o conceito de neutralidade da AfD é um erro de concepção voltado para a intimidação e argumentam que, na sala de aula, os professores são obrigados por lei a salvaguardar garantias previstas na Constituição alemã.
Eles afirmam que os alunos da escola são explicitamente informados sobre os perigos que a AfD representa para a democracia liberal e suas "atitudes hostis" em relação à liberdade de imprensa, direitos humanos e pela manutenção do Estado de direito.
Como exemplo, os professores citam a declaração de um dos líderes da bancada da AfD no Parlamento alemão, Alexander Gauland, que disse que um parlamentar do Partido Social-Democrata (SPD) de origem turca deveria ser "devolvido para Anatólia" e uma referência feita por um político da legenda no estado da Turíngia, que chamou imigrantes de origem turca de "pastores de camelo".
A carta lembra ainda uma declaração dada por Gauland em junho, de que o período nazista seria apenas um "cocô de passarinho" em comparação aos mais de mil anos de história da Alemanha. "Nas salas de aula, abordamos o tema da repetida e contínua redução de situações complexas, combinada com a atribuição de culpa às minorias, da forma como ocorre dentro da AfD", diz o texto.
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