O afastamento de Paulo Dantas (MDB), do cargo de governador de Alagoas, imposto pela ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Laurita Hilário Vaz, pelo prazo de 180 dias, levou a presidente da Corte, a também ministra Maria Thereza de Assis Moura, convocar uma sessão extraordinária para esta quinta-feira (13), quando todos os ministros do órgão que assegura efetivamente a uniformidade à interpretação da legislação federal, devem analisar a questão.
Paulo Dantas foi alvo nesta terça-feira (11), da segunda fase da operação Edema, da Polícia Federal (PF), que investiga supostos saques, de forma reiterada, em agências da Caixa Econômica Federal (CEF), em Maceió, nos anos de 2021 e 2022, de salários de funcionários fantasmas da Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE). Suspeita-se que o suposto esquema criminoso, que teria desviado cerca de R$ 54 milhões, teria tido a participação da mulher do governador, a prefeita licenciada de Batalha, Marina Dantas, de uma irmã do governador e de um cunhado. Todos também teriam sido alvo da operação da PF e por decisão da ministra estão impedidos de terem qualquer tipo de comunicação física ou virtual.
A operação da PF cumpriu 31 mandados de busca e apreensão e foram executados na sede do governo do Estado, no Palácio República dos Palmares e na Assembleia Legislativa, em Maceió, além do apartamento do casal Paulo e Marina Dantas, na orla de Maceió, em outra residência do casal, em Batalha, nas residências de parentes de Paulo Dantas e de outras pessoas suspeitas e, em um hotel em São Paulo, onde o governador estava hospedado.
Em nota, o governador afastado afirmou que a ação da Polícia Federal é um ato político e acusou o deputado federal reeleito Arthur Lira (PP), de usar a PF para beneficiar a candidatura de Rodrigo Cunha (União Brasil) ao governo do Estado.
"Revela-se grotesca a ‘ação’ – na verdade, ‘encenação’ – de uma ala da Polícia Federal, que permitiu ser aparelhada para atender interesses político-eleitorais, tentando dar um golpe na minha candidatura à reeleição de governador de Alagoas para favorecer o candidato de Arthur Lira, Rodrigo Cunha", informou Dantas.
Ainda na nota, Dantas diz que a operação teria sido realizada sob pretexto de investigar acusações de 2017.
"A tentativa de criar alarde perto da confirmação da vitória é fácil de ser desconstruída: foi anunciada por adversários, evidenciando a manipulação da operação policial. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, por exemplo, já havia ameaçado, na véspera do 1º turno, revelar no 2º turno detalhes da operação, que seria sigilosa", cita a nota.
A operação policial e o afastamento do governador aconteceu no mesmo dia do resultado da pesquisa do Instituto Real Time Big Data contratado pela Record TV que aponta Paulo Dantas, com 18 pontos à frente na disputa pelo segundo turno pelo governo do Estado.
Com 47% das intenções de votos totais ou 59% dos votos válidos, Paulo lidera corrida ao Governo contra 33% das citações ou 41% dos votos válidos para Rodrigo Cunha (União Brasil). Brancos e nulos somam 7%; não sabem ou não responderam 13%.
Os números são da sondagem estimulada – em que os nomes dos candidatos são apresentados aos mil entrevitados entre os dias 8 e 10 de outubro. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. A pesquisa está registrada no TSE sob o número AL-05979/2022.
Paulo Dantas lidera também entre as pessoas que ganham até dois salários mínimos. Nesse segmento, o candidato à reeleição conta com 50% das intenções de voto. Já entre os que ganham mais de cinco salários mínimos, 43% preferem Rodrigo Cunha.
A operação desta terça-feira surpreendeu e dividiu opiniões de jornalistas, advogados e políticos em todo o país. Enquanto alguns apoiaram a decisão, outro criticaram a decisão da ministra em afastar o governador do cargo as vésperas das eleições.
Uma das que criticou o afastamento de Dantas foi a presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann. Usando as redes sociais Hoffmann publicou que a operação da PF "cheira a manipulação política".
"É suspeitíssima a operação da PF contra governador Paulo Dantas, que lidera as pesquisas em Alagoas. A 19 dias do segundo turno, cheira a manipulação política, num estado em que a Superintendência da PF é controlada pelo presidente bolsonarista da Câmara dos Deputados", escreveu Hoffmann. A parlamentar destacou ainda as mudanças recentes na Superintendência da Polícia Federal em Alagoas.
Outro apoiador da reeleição de Dantas, o senador Renan Calheiros (MDB), acusou Arthur Lira de promover uma armação contra Paulo Dantas.
Calheiros afirmou que já havia alertado às autoridades competentes que, com a vantagem de Dantas sobre Rodrigo Cunha no primeiro turno das eleições para o governo estadual, haveria perseguições institucionais contra o governador.
"Em 5/10 alertei o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e o MP (Ministério Público): Alagoas é vítima do uso político da PF (Polícia Federal) e do abuso de autoridades. Pedi a troca do superintendente, cabo eleitoral de Arthur Lira que sonha com a Gestapo. Lira levou uma surra. Vencemos em 83 cidades, elegemos o senador e temos 60% dos votos no 2º turno (Ibrape)", escreveu Renan em seu Twitter.
Já apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) estão usando a operação da PF para relacionar Paulo Dantas com o ex-presidente Lula. Em sua conta no Twitter, Carla Zambelli (PL-SP) publicou uma foto do candidato à reeleição ao governo de Alagoas ao lado de Lula ironizando a slogan de campanha do petista: "Faz o L".
Já o Leonardo Dias, vereador de Maceió e que foi candidato a vice-governador na chapa do senador Fernando Collor (PTB), foi outro que alfinetou Paulo Dantas.
"Lula vem no dia 13 para fazer uma passeata com o Governador Paulo Dantas, afastado por suspeita de diversos crimes. Eu sugeriria que a passeata começasse na Feirinha de Artesanato da Pajuçara, sentido Polícia Federal", publicou o vereador nas redes sociais.
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