Uma nota de repúdio publicada nesta quarta-feira (15) pela Arquidiocese de Maceió e assinada pelo arcebispo Dom Antônio Muniz critica “a utilização politiqueira das comunidades terapêuticas por parlamentares do nosso Estado de Alagoas”.
Apesar de não citar o nome do deputado federal Givaldo Carimbão (PHS), a nota deixa claro que a Secretaria de Estado de Prevenção à Violência (Seprev) é usada como “sustentáculo que alimenta essa engrenagem”.
Desde que foi criada, em 2010, ainda no governo de Teotonio Vilela Filho, a Seprev sempre teve como secretário algum indicado do deputado Givaldo Carimbão. No ano passado, após um rompimento entre ele e o então gestor da pasta, Jardel Aderico, Carimbão pediu ao governador Renan Filho (PMDB), conforme divulgado pela imprensa na época, que fizesse a substituição do gestor, e logo foi atendido.
Ainda na nota de repúdio, o arcebispo ressalta que “preocupa-nos os rumos eleitoreiros que o tratamento à dependência química vem tomando em Alagoas”. “Ora, como pode uma Secretaria, que se afirma técnica, participar de encontros meramente político-partidários com as comunidades?”, diz outro trecho da nota, salientando que um encontro desse tipo foi realizado essa semana em Santana do Ipanema, “em um ambiente marcadamente católico”.
“Assim, a contrapartida estadual que deveria ser obrigação passou a ser tratada como uma esmola negociável entre aqueles que veem o dependente não como alguém que precisa de ajuda, mas simplesmente como um mero voto a ser conquistado e comprado”, diz outro trecho da nota assinada pelo arcebispo.
O deputado federal Givaldo Carimbão foi candidato a prefeito de Delmiro Gouveia no ano passado, porém, foi derrotado nas urnas pelo candidato Padre Eraldo (PSD), atual prefeito da cidade.
Procurada pela reportagem do Correio Notícia, a Seprev informou, por meio de uma nota, que desconhece a realização de qualquer evento político-partidário com a participação das comunidades acolhedoras. Outro trecho da nota da Seprev diz que: “A Seprev volta a enfatizar que é a favor de uma abordagem totalmente técnica quanto ao tratamento de dependentes químicos e que defende a isenção política de todas as comunidades e instituições acolhedoras de dependentes químicos, que devem estar totalmente focadas no tratamento e recuperação das pessoas com dependência química”.
Confira abaixo, na íntegra, a nota de repúdio da Arquidiocese de Maceió e a nota de esclarecimento da Seprev.
NOTA DE REPÚDIO
Feito à imagem e semelhança de Deus (Gn 1, 26), o ser humano é desde a criação detentor de direitos que o eleva e dignifica como pessoa, não podendo, de forma alguma, ser tratado como moeda de troca e considerado um mero fim eleitoral.
Infelizmente, hoje, vemos uma realidade que privilegia o voto em troca do tratamento de dependentes químicos. Não importa mais o cuidado digno e universal a todo aquele que precisa, mas sim uma escolha política que fere não somente o dependente, mas a todos nós, que através de nossos direitos, somos a base do Estado.
Preocupa-nos os rumos eleitoreiros que o tratamento à dependência química vem tomando em Alagoas, assim a REDE CRISTÃ DE ACOLHIMENTO vem manifestar seu total repúdioà utilização politiqueira e partidária das comunidades terapêuticas por parlamentares do nosso Estado de Alagoas. Além disso, repudia veementemente o uso da Secretaria de Estado de Prevenção à Violência (SEPREV) como sustentáculo que alimenta essa engrenagem. Ora, como pode uma Secretaria, que se afirma técnica, participar de encontros meramente políticos-partidários com as comunidades? Tais encontros, como o que aconteceu esta semana, na cidade de Santana do Ipanema, em um ambiente marcadamente católico,servem tão somente para amedrontar e ameaçar ainda mais os dirigentes que dependem de verba pública para sua manutenção. Assim, a contrapartida Estadual que deveria ser obrigação, passou a ser tratada como uma esmola negociável entre aqueles que veem o dependente não como alguém que precisa de ajuda, mas simplesmente como um mero voto a ser conquistado e comprado.
Diante dos danos que decorrem dessa politicagem, a Política sobre Drogas deve ser prioridadee não um negócio pouco transparente de grupos restritos de interesse e/ou legendas políticas sem compromisso com um Estado plural.
E ainda pela grave situação em que nos encontramos, questionamo-nos até quando permitiremos, enquanto cristãos, que isso se perpetue em nossas vidas.Do que ou de quem temos medo? Onde guardamos a nossa coragem? Será que dirigentes católicos de comunidades perderam a fé ou a vergonha?
Precisamos reacender a chama da nossa fé e combater o bom combate (2Tm 4, 7). Por isso, convidamos toda sociedade para denunciar e rechaçar a forma como o Governo vem tratando o dependente químico no Estado de Alagoas. Quem sabe assim, juntos, eles percebam que como diz nossa Carta Magna:todo poder emana do povo.
Maceió, 15 de fevereiro de 2017.
DOM ANTÔNIO MUNIZ FERNANDES
Arcebispo Metropolitano de Maceió
Presidente da Federação da Rede Cristã de Acolhimento
NOTA DE ESCLARECIMENTO
A Secretaria de Estado de Prevenção à Violência (Seprev) vem por meio desta nota esclarecer os fatos apontados, nesta quarta-feira (15), pela Arquidiocese de Maceió.
A Seprev desconhece a realização de qualquer evento político-partidário com a participação das comunidades acolhedoras. Desconhece ainda o evento realizado no município de Santana do Ipanema, conforme divulgado pela nota emitida pela Arquidiocese de Maceió.
A instituição aproveita para informar que, seus representantes participaram de um único evento, na segunda-feira (13), envolvendo algumas comunidades acolhedoras. O encontro, organizado pela Associação Alagoana das Comunidades Acolhedoras (AACA), teve por objetivo discutir a implantação de um cronograma de capacitações técnicas para conselheiros acolhedores que atuam nas comunidades.
A Seprev lembra ainda que a participação de seus representantes neste referido evento, realizado na Comunidade Divino Pai Eterno, no município de Feira Grande, se deu a partir de um convite feito pela própria AACA, formada por 22 comunidades acolhedoras espalhadas por todo o estado e que se fizeram presentes no encontro.
A Seprev volta a enfatizar que é a favor de uma abordagem totalmente técnica quanto ao tratamento de dependentes químicos e que defende a isenção política de todas as comunidades e instituições acolhedoras de dependentes químicos, que devem estar totalmente focadas no tratamento e recuperação das pessoas com dependência química.
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