Acostumado a ver a vida dos animais esvaísse com muita naturalidade, por conta da profissão de marchante que tem, o acusado de esfaquear e matar uma cadela, no início dessa semana, em Delmiro Gouveia, deu uma entrevista à rádio Correio Delmiro, e pela tonalidade da voz parecia não ter consciência da situação na qual está metido.
Preso em flagrante delito, o homem de 62 anos de idade teve a prisão convertida em preventiva pelo j.udiciário, a pedido do Ministério Público. Isso é, ele vai continuar preso até que a Justiça decida pelo contrário, inclusive já foi levado nesta quinta-feira (26) para um presídio.
O homem, batalhador pelo pão de cada dia, cometeu um erro grave, conforme a acusação, um crime de maus-tratos a animais, com resultado morte, não obstante, muitos da mesma geração cresceram vendo essas situações aconteceram impunemente, e a prática tida como “normal” fomentou consciências equivocadas pela leiguice da Lei.
Por muitos que também cresceram vendo essas barbáries o argumento é firme: como vão manter preso um homem apenas porque matou uma cadela? Tantos mataram gente e nem presos foram. É uníssono: tudo bem, ele errou, mas manter preso é demais. Já para outros: que sirva de exemplo para os demais, tem que morrer na cadeia... Isso tudo entre outros desejos insustentáveis por alguém no exercício racional da humanidade.
Na entrevista que deu à rádio, direto da delegacia, o marchante sustentou a versão de que o que aconteceu foi um acidente, que uma faca da tarimba onde estava caiu sobre a cadela, provocando um corte que deixou expostas as vísceras do animal, que teria tentado comer um pedaço de carne quando tudo aconteceu.
A referida versão do marchante não convenceu o promotor e o juiz que o ouviu, mas, ainda assim, ele disse ser a mais pura verdade, enquanto, durante a fala na rádio, pediu desculpas à sociedade pelo que aconteceu.
O homem, de voz tranquila durante toda a conversa ao vivo no rádio, disse respeitar a decisão da Justiça, mas desabafou. “Eu crio meus cachorros, eu tenho amor pelos meus animais. Estão me acusando injustamente, sou inocente, sou um pai de família”, afirmou o marchante, que finalizou a entrevista cobrando à prefeitura uma solução para os animais nas ruas. “Prefeitura, crie um órgão para proteger os animais, para não acontecer algo assim com outro coitado como eu”, concluiu.
O caso ascendeu um problema negligenciado há muito pela prefeitura e demais poderes públicos, que são os animais soltos nas ruas. São diversos os relatos de casos de pessoas atacadas por cachorros espalhados pela cidade, inclusive algumas foram hospitalizadas.
Enquanto não é construído um centro municipal de zoonoses, a solução prática e barata seria a prefeitura firmar uma parceria com as pessoas que acolhem e cuidam voluntariamente de alguns desses animais soltos nas ruas.
A ideia é o município arcar com a despesa da locação de um local para recolhimento desses bichos e com procedimentos veterinários, inclusive de castração. A prefeitura poderia, sobretudo, realocar a profissional veterinária servidora do município para a real função dela, garantindo mais viabilidade à medida sugerida.
Por outro lado, diante da situação da morte da cadela, o secretário municipal de Meio Ambiente, Marcos Diniz, anunciou um mutirão de castração de animais em situação de rua e decidiu aplicar o rigor máximo da Lei contra o acusado de agressão contra a cadela, mutando-o em R$ 3 mil por maus-tratos a animal. A medida austera não deve ser a única coisa a ser feita, e que não seja.
Não obstante, sem intenção de defender esse tipo de crime, acredito que o senhor aprendeu a lição, além disso ainda tem direito de exaurir o amplo direto de defesa, gozando da presunção de inocência, sem que haja antecipação de pena condenatória. Que pague pelo que fez, mas sem ser “bode expiatório” para um problema que é bem mais de quem o condena do que dele próprio.
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