Quando falamos da Tradição da Poesia Delmirense, ao estilo do saudoso Virgílio Gonçalves e do grandioso Severino de Souza Neto, falamos de um universo para poucos, expresso numa poesia que rima com exatidão e fala de modo autêntico e que emociona os corações dos nossos conterrâneos — porque sua temática releva o que temos de melhor, conforme nossa condição de sertanejo, alagoano e delmirense. Dentro deste universo, nós temos um novo grande poeta. Um artista que definitivamente chegou para somar a nossa cultura. Gostaria de apresentá-lo a partir de um poema, de modo que você entenda o tamanho do acontecimento.
A imposição
Tem aquilo que me é imposto
Discordo! Impugno! Não aceito
Mas sou obrigado a contragosto
Pois me é imposto e não tem jeito
Tem na comida o tal imposto
E até na renda ? que dor no peito!
Na água, luz, na gasolina do posto
Não me sobra nada, nenhum direito
Aliás, o que se tem feito?
Com tanta imposição?
Era pra ser tudo perfeito
A qualidade na saúde, educação
Mas meu amigo é tudo o oposto
O suposto dinheiro é pago em vão
O poeta que debuta em seu livro “Alguns poemas” chama-se Marlos Caíque. Natural de Santa Brígida-BA, nasceu em 1988. Desde muito cedo apresentou aptidão para a escrita criativa, sendo reconhecido por colegas de sala de aula e professores. Atualmente é advogado com escritório em Delmiro Gouveia/AL, município onde reside. É graduado em Direito pela Fasete (Unirios). Cristão da Assembleia de Deus, casado com Pamela Cavalcante, pai de Marlos Samuel, e filho de Zé Ribeiro, o dono de padaria mais famoso da região. Nas horas vagas dedica-se à poesia.
Leiamos outra vez:
A poesia vive
A poesia não é só a escrita
É a vida acontecendo agora
Ao som da música mais bonita
E a escrita duma nova história
A menina com o laço de fita
Que salta pela rua a fora
Mais que contagia, pula, grita
E ninguém percebe, ignora
Agora mesmo, a poesia vive
Mesmo no luto, que se chora
O olhar se alegra, ressuscita
Permita-me até dizer inclusive
Que ainda que morta, revigora
Nem morre! A poesia, amigo, vive!
Quem acompanha sua produção, ouvindo-o recitar ou lendo seus manuscritos (com a sua graça e seus comentários distintivos) tem a noção de que a cultura literária delmirense dará mais um daqueles saltos para além das expectativas dos leitores mais exigentes. E seu livro está disponível, sendo possível adquiri-lo na Papelaria Torres.
Para quem gosta de poesia e estava meio carente de novas produções de autores delmirenses, agora a oportunidade de fruir um livro inteiro, cuja qualidade o eleva ao rol dos melhores livros publicados em Delmiro Gouveia nos últimos 20 anos.
Leiamos este belo poema:
A precisão
Pedro precisou de pão
O padeiro de farinha
Farias não tinha não
Tômas era quem tinha
Veria Tômas a João
Ajudado por Teresinha
Mas num acidente ? um caminhão
Pois Vânia era quem vinha
Tômas caiu ao chão
O sangue lhe sobrevinha
E um coma lhe acometeu
Mas Pedro com precisão
Nem se lembrou da farinha
E com Farias o socorreu
E as sutilezas dos seus versos não se esgotam, porque tais poemas dizem mais e além do que aquilo que ali no texto se expressa. A rima é complexa e inventiva, o jogo de palavras, para além de comunicar, poetificam nossas tardes de leituras. E era mesmo preciso reunir o melhor da sua poesia, de uma escrita que verso a pós verso surpreende o leitor, demonstrando o profundo domínio de um senso poético muito pessoal, pela especificidade temática, pela abordagem temática, pela escolha precisa das palavras, pela desenvoltura em fazer significar (de modo peculiar e poderosamente) quando certas palavras se encontram e festejam no poema, e sobretudo, pelo tratamento virtuoso dado às coisas do seu universo particular, como no belo poema que se segue:
Perspectiva poética
As flores hoje fecharam mais cedo
As portas brotaram sem chaves
Mas as cores abriram sem medo
E os versos fizeram as pazes
Hoje mesmo o dia estava azedo
Os sabores escuros e contumazes
Mas os tesouros diziam os segredos
E as estrofes se fizeram suaves
Hoje no teatro não se tinha enredo
Nem as peças expostas em cartazes
Ou ao menos um simples folheto
Mas a plateia se encontrava cedo
As moças beijavam os rapazes
E as crianças faziam um soneto
O livro de Marlos Caíque é mais uma produção das Edições Parresia, uma editora 100% delmirense.
https://www.edicoesparresia.com.br
Boa leitura!
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