O “Ser-Branco” é um grito, um sintoma de uma efervescência cultural, uma avaliação, um lance ao futuro da arte água-branquense. O EP é uma produção nascida num momento de fertilidade artística na cidade de Água Branca, e ao mesmo tempo é uma anunciação desse tempo, ou pelo menos um rugir contra os horizontes do futuro para que o eco da minha voz construa novas vivências com a cidade e sua fonte artística. Pois, se tenho um sonho, esse é transformar Água Branca numa grande feira artística a céu aberto: a cidade da arte!
No Ep eu misturo Poesia metalingüística parida no berço do que chamo de “O eterno artístico aguabranquense”, isto é, o fenômeno de Ser água-branquense; de como a cidade Água Branca porta uma pré-disposição à criação artística. As poesias e músicas exploram, como também são, em si, a própria manifestação do eterno artístico. As narrativas giram em torno do personagem perspectivando sua própria existência, seu movimento no mundo e sua finitude, sempre ancorado no seu espaço originário, entre as caatingas e serras.
A história de Água Branca é a história da arte no Sertão Alagoano. Desde que se sucedeu vida nessas terras, a força criativa do mundo mostrou-se em plena liberdade aqui. Os ventos ininterruptíveis das serras e suas terras pretas, como que carrega a própria fórmula da vida, fabricaram um tipo de humano, os atravessando, com um potencial imenso. As famílias endinheiradas que vieram aqui explorar toda essa potência, no século XVIII, acabaram por trazer influências culturais exteriores, uma delas a matriz arquitetônica Neo-clássica em pleno desenvolvimento na Europa, que até hoje se encontra intacta no esplendoroso “Centro histórico”, e aqui destacamos nossa linda Igreja matriz Nossa Sra da Conceição.
Esta arquitetura transporta todo santo dia, por mais de um século, a percepção dos detalhes das coisas do mundo; cria um vínculo entre os olhos dos água-branquenses, serreiros-caatingueiros, e a profundidade artística. Crescemos em meio a essas curvas, aos sinos gigantes, as pedras alocadas pela força negra dos escravos e polidas pelo tempo durante séculos no centro histórico, aos cadernos grafados de cantos gregorianos, de iguais destes que tocavam antes da Santa missa celebrada pelo Pe. Rosevaldo. Um povo místico, cheio de religiosidade.
O clima misto, entre a caatinga e as serras é o prisma do Ser-aguabranquense. A neblina leva os cidadãos ao “estado branco”, de melancolia. A caatinga, sua maior parcela geográfica, reflete a forte ligação do água-branquense com a natureza: Os sabiás, as veredas, as matas brancas.
Tudo isso dá forma ao movimento água-branquense, um movimento torto, errante, criativo, profundíssimo, puro interiormente e jogado ao exterior, isto é, cultural (kutur). É a terra molhada e o branco da neblina rodiada pela mata branca, a caatinga. O Eterno-artístico sai à luz do dia e se põe a cavalo rasgando o ventre secular da cidade.
Por: Sávio Noras
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