"Ele me puxou pela cintura diversas vezes, colocou a mão na minha bunda, quando eu ia me afastando ele puxou me cabelo", disse a jovem que registrou o primeiro boletim de ocorrência denunciando o dono de uma loja de roupas, suspeito de estuprar mulheres em Belo Horizonte.
O homem de 29 anos é investigado pela Polícia Civil, que informou que há pelo menos outros quatro registros formais contra ele até o momento.
Nas redes sociais, mais de 50 vítimas compartilharam relatos de abusos sofridos tanto no interior da Ana Modas, que fica no Shopping Uai, no Centro da capital, quanto na casa dele.
No boletim de ocorrência da Polícia Militar (PM), registrado há mais de três anos, consta que a vítima, que tinha 18 anos na época, relatou que foi abusada pelo suspeito identificado como Cleidison dos Santos Fernandes, durante uma entrevista de emprego.
"Ele me puxou. Quando eu fui afastar, me beijou no braço, me deu uma mordida", disse a designer de sobrancelha, hoje com 22 anos.
Na época, Cleidison prestou esclarecimentos sobre o fato denunciado. A Polícia Civil informou que realizou os procedimentos investigativos e remeteu o caso à Justiça.
O Fórum Lafayette informou que o empresário foi processado por contravenção penal, mas o processo foi encerrado, em maio de 2017, por "ausência de justa causa".
"É importante ir até o fim com isso porque a justiça precisa ser feita, algo coisa precisa ser feito. É muito triste, né? Ver que precisa desse movimento todo, que precisa de tantas mulheres serem abusadas, estupradas, para poder ser feita alguma coisa?", disse a jovem.
Mais de 50 relatos
A maior parte das histórias relatadas nas redes sociais tem o provador da loja como cenário. Entre as vítimas estão clientes, funcionárias e mulheres procuradas por ele para realização de parcerias de divulgação de peças vendidas na Ana Modas.
O movimento de denúncias começou depois que uma adolescente publicou um relato na internet, na última semana. A consultora financeira Maria Eduarda Amaral, de 20 anos, que deu origem ao movimento "#ExposedBH", em junho deste ano, viu a postagem da amiga e decidiu compartilhá-la em solidariedade.
"Quando postei no meu Instagram, outra amiga minha disse que também havia sido abusada por ele. Eu fiquei assustada porque, só no meu círculo social, eram duas vítimas. Fiz a exposição e postei nos stories. Depois disso, várias meninas começaram a me chamar, muitas mesmo. Os casos são parecidos, de entrar no provador e passar a mão nelas. Foram mais de 50 relatos", contou.
Uma ex-funcionária da loja relatou à TV Globo, nesta terça-feira (29), que só teve coragem de procurar a polícia depois de assistir ao vídeo publicado por Duda. A estudante, que hoje tem 23 anos, trabalhou com o suspeito durante três meses e relatou que sofreu o abuso em 2018. Ela registrou o boletim de ocorrência no último domingo (27).
Outra estudante, de 20 anos, contou ao G1 que foi abusada dentro da loja, no começo do ano passado, quando foi até lá para tirar fotos de divulgação de roupas.
"Coloquei o biquíni, ele abriu a cortina e começou a passar a mão em mim. Fiquei desconfortável. Quando vesti minha roupa, vi que não tinha funcionária mais lá. Ele me imobilizou, segurou meus braços e começou a me beijar à força, com meus braços imobilizados para trás. Pedi para sair. Ele falou pra eu não gritar, mas eu gritei. Como tem outras lojas em volta, ele me soltou", afirmou a jovem. Ela ainda não formalizou a denúncia, mas disse que fará isso nos próximos dias.
O que diz o suspeito
Na manhã desta quarta-feira (30), a advogada que defendia Cleidison dos Santos Fernandes informou que deixou o caso. Na terça-feira, ela havia enviado uma nota dizendo que "a Loja Ana Modas, bem como seu proprietário repudiam veementemente as acusações sofridas indevidamente, e informam que os verdadeiros fatos serão provados oportunamente, ficando claro sua inocência e idoneidade" (sic).
O G1 tentou contato com o suspeito por telefone e enviou mensagens, mas não recebeu retorno. A nova defesa dele não foi localizada.
Também por meio de nota, o Shopping Uai disse que repudia "qualquer forma de violência e abuso, principalmente contra as mulheres" e que se disponibiliza "a auxiliar todas as pessoas vítimas que precisarem de orientação no encaminhamento jurídico ou psicológico".
O centro de compras afirmou ainda que enviou uma notificação para que a Loja Ana Modas se manifeste em até 48h, "sob pena de rescisão sumária de seu contrato de locação".
Denúncias
A polícia reforça a importância de as vítimas procurarem a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher para formalizar as denúncias. O prédio funciona 24h por dia e fica na Avenida Barbacena, 288, no bairro Barro Preto, em Belo Horizonte.
De acordo com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), de janeiro a novembro de 2020, foram registrados 899 estupros consumados, 184 tentativas de estupro, além de 2.369 casos consumados e 112 tentativas de estupro de vulnerável.
*Carlos Eduardo Alvim, Cíntia Neves e Manoela Borges colaboraram para esta reportagem.
Utilize o formulário abaixo para comentar.