Ainda sem data marcada, o assassino confesso do advogado mineiro Nudson Harley Mares de Freitas, executado a tiros na noite de 3 de julho de 2009, em um dos bairros da orla de Maceió, foi pronunciado a júri popular na terça-feira (6).
Antônio Wendell de Melo Guarniere é suspeito de ter sido contratado para assassinar o juiz Marcelo Tadeu Lemos de Oliveira – hoje aposentado. Na noite do crime o magistrado havia entrado em uma farmácia para fazer compras no mesmo momento que o advogado saiu de uma pousada ao lado da farmácia e se dirigiu a um telefone público a fim de ligar para a esposa. Antônio Wendell, que seguia o magistrado, teria se confundido e atirado no advogado que tinha as mesmas características físicas do magistrado. Nudson foi alvejado no momento que dava boa noite a esposa, que ouviu o barulho do disparo e os gritos do marido.
De acordo com a decisão, publicada no Diário da Justiça, o réu vai responder por homicídio qualificado.
A pronúncia cita ainda incisos que versam que o crime ocorreu “mediante paga ou promessa de recompensa”, “perigo comum” e “surpresa”. Além disso, na pronúncia, há menção sobre um dispositivo jurídico de “erro sobre a pessoa”, que é sobre o erro quanto à pessoa que foi vitimada.
Embora o processo corra sob segredo de Justiça, já se sabe que o júri será presidido pela juíza Luana Cavalcante que informou a imprensa que houve um pedido para o juiz aposentado Marcelo Tadeu ser habilitado como assistente de acusação no processo. A magistrada confirmou também que o pedido já foi apreciado e que o ex-juiz será comunicado em breve.
As tumultuadas investigações, iniciadas pela Polícia Civil (PC) e reiniciadas pela Polícia Federal (PF) não conseguiram ser precisas, até que em julho de 2016 uma reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, a verdadeira trama que se escondia por trás do crime.
Durante a reportagem, o próprio juiz Marcelo Tadeu revelou que sua morte havia sido planejada pelo desembargador Washington Luiz Damasceno Freitas, ex-presidente do Tribunal de Justiça de Alagoas.
Um dos personagens ouvidos pela TV Globo foi o delegado da Polícia Federal (PF) José Fernando Chuy que confirmou que o pistoleiro realmente havia confundido o advogado com o juiz.
“Um dos meliantes teria referido que ‘opa, matamos a pessoa errada’. Para nós é muito claro que o advogado Nudson não era a vítima. Ele foi justamente confundido com o juiz”, disse o delegado ao Fantástico.
Outro personagem ouvido pela TV Globo foi o comerciante Kleber Malaquias de Oliveira que afirmou ter testemunhado em um restaurante de Maceió uma conversa entre o desembargador Washington Luiz e seu irmão, Wellington Damasceno Freitas, o “Xepa”, que é ex-prefeito de Olho d’Água do Casado. Na conversa, segundo Malaquias, o desembargador teria falado que era para matar Marcelo Tadeu.
“Manda passar que a gente resolve” afirmou Malaquias, morto em um bar na cidade de Rio Largo, Região Metropolitana de Maceió, (RMM), no ano passado. Sua morte, até hoje, não foi esclarecida.
Ainda na reportagem o ex-juiz confirmou que havia sido informado que Washington Luiz estria por trás da trama que visava sua morte, porque não aceitava que “Xepa” tivesse sido cassado do cargo de prefeito, pelo juiz, que teria descoberto fraude nas eleições que ele havia vencido.
“Essa decisão de cassação de um mandato e o cancelamento de títulos [cerca de 12 mil] nessa ordem, isso não agradou a pessoa do desembargador”, afirmou Marcelo Tadeu.
Já o advogado do juiz aposentado, Thiago Pinheiro, disse estar “estupefato com a total falta de informações processuais em favor do principal interessado: a vítima Marcelo Tadeu”.
Segundo Pinheiro, ao que parece, o Estado procura ocultar desde o início toda a trama criminosa. “Nossas esperanças se abrigam fora do Estado de Alagoas, no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e outras instituições que devem cuidar do caso na íntegra”, concluiu o advogado.
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