Os pequenos provedores de internet banda larga em Alagoas e na capital Maceió estão dando as cartas quando o assunto é internet por fibra óptica. Elas deixaram para trás empresas tradicionais do segmento como Vivo, Oi e Claro/NET, segundo levantamento de empresas do ramo das comunicações, como a Anatel e Teletime.
Em Alagoas, segundo dados fornecidos pela Associação dos Provedores do Estado de Alagoas (Aspeal), cerca de 70% do mercado de internet é abastecido pelos pequenos provedores ou chamada “Internet de bairro” que, em outras palavras, têm levado as pessoas uma espécie de “Internet para Todos”, em todos os rincões do Estado – uma espécie de alusão ao Programa “Luz para Todos”, antigo programa de democratização da energia do Governo Federal.
Em nível de Brasil, os dados apontam que as operadoras de internet menores lideram a participação de mercado em 3.509 cidades brasileiras. Esse tipo de crescimento ocorre porque as grandes operadoras não conseguem investir na expansão das redes de fibra óptica. As gigantes ainda estão limitadas à tecnologia ADSL/VDSL.
Esse mercado já mobiliza na economia alagoana cerca de mil empresários com mais de 20 mil funcionários e estão presentes em todos os municípios. Só em Maceió, são cerca de 500 empresários que levam a internet para as grotas, periferia, cujo “bolo” do mercado já representa aproximadamente 2 milhões de usuários.
No Estado, a grande maioria dos pequenos provedores atua com fibra óptica, fornecendo serviços como telefonia fixa, móvel e TV por assinatura, com entrega de maior velocidade de internet a um valor mais atraente que as gigantes do setor, com preço competitivo entre R$ 50 e 60, 00 em média, enquanto as maiores cobram entre R$ 100 e 150,00, com qualidade inferior.
SEGMENTO QUER DIÁLOGO COM EQUATORIAL
Mas ao mesmo tempo que celebram os dados positivos no mercado de internet, há um imbróglio em meio aos benefícios que as pequenas provedoras estão ofertando a milhares de alagoanos. Diz respeito à concessionária de energia no Estado, a Equatorial Energia (proprietária dos postes utilizados com cabos e fiações) e suas terceirizadas. A concessionária vem removendo postes, cortando a fiação – sem comunicar aos provedores - e têm causado transtornos e prejuízos financeiros de grande monta. As operações da Equatorial estão afetando, por tabela, os clientes dos serviços, que têm ficado sem internet, de acordo com informação da Aspeal.
“Com este transtorno, prejuízos com estas manutenções e retiradas de postes, queremos abrir um diálogo com a Equatorial, porque se isso continuar ocorrendo sem comunicação, quase 200 mil pessoas podem ficar sem internet em Maceió, o que já está ocorrendo em algumas localidades na capital, principalmente na periferia”, alerta o presidente da Aspeal, Ângelo Rosa, que preside a associação que movimenta o segmento da internet de bairro em Alagoas.
“A Equatorial está removendo postes sem critérios e prejudicando os clientes por conta dessas trocas de postes, sem prévia comunicação”, argumenta Ângelo.
Para ratificar o que diz o presidente da Aspeal, só esta semana, bairros como Trapiche, especificamente na Vila dos Pescadores; no Jacintinho - na Grota do Cigano, Grota do Arroz -, e até bairros de classe média, como Gruta de Lourdes, tiveram clientes prejudicados com a falta de internet por conta desses cortes e remoções de postes da banda larga e fibra óptica usadas nas conexões pertencentes aos pequenos provedores.
“Na Vila dos Pescadores, vários clientes, cerca de 900 pessoas, ficaram sem internet por três dias por conta da troca de postes e com um problema: sem comunicação prévia”, ratifica Ângelo. “É preciso lembrar à Equatorial que é fundamental avisar, porque não é só falta de internet, mas isso também prejudica os negócios da comunidade, pois há comerciantes que dependem de internet para dar fluxo a seus negócios”, ressalta o presidente da Aspeal.
Proprietário de um pequeno provedor de internet que alimenta bairros como Jacintinho, Poço, Vale do Reginaldo, Henrique Marques teve a conexão de seus clientes prejudicada com poste danificado, fiação de fibra óptica jogada ao chão, gerando um prejuízo de cerca de R$ 100 mil. ”Da forma como eles estão realizando esses serviços, estão prejudicando muitos assinantes, deixando sem conexão, devido à forma como executam os trabalhos, sem nenhuma notificação prévia”, queixa-se Henrique.
“A Equatorial vem fazendo essas operações com as empresas terceirizadas e não está havendo diálogo para comunicar os provedores com antecedência. Por tabela, esse procedimento vem danificando todo material de fibra óptica dos provedores, o que gera um custo altíssimo”, confirma o provedor.
“Queremos abrir o diálogo com a Equatorial, a quem consideramos parceira, para evitar esses danos”, completa Ângelo Rosa.
CLIENTES SE ASSUSTAM COM RISCO DE CORTE NA CONEXÃO SEM COMUNICAÇÃO PRÉVIA
Esta semana, os pequenos provedores e clientes da Gruta de Lourdes, bairro de classe média da capital, tiveram a informação de que haverá remoção de postes por parte da Equatorial, como aconteceu na Vila dos Pescadores e no Jacintinho, e já estão assustados com o risco iminente de prejuízos com a falta de conexão na internet.
Esse é o caso da dona de casa Ana Paula Bezerra. Preocupada com a comunicação que recebeu do provedor de sua internet por causa da possibilidade da falta de conexão em sua residência em função das remoções de postes da Equatorial na rua em que mora, Ana Paula teme a ameaça, porque o filho Manoel Rodrigues de Brito, 6 anos, sofre do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) cujo grau de dependência e necessidade de suporte é a forma mais severa.
Ana afirma que Manoel depende muito da internet para o desenvolvimento dele. “Ele tem muita dificuldade de ficar em casa sem internet. Faz terapia e estuda, mas em casa, quando falta internet, ele não entende e descompensa. Meu filho fica muito agitado quando falta a internet de vez em quando ou dez minutinhos que seja. Imagine se ficarmos por um tempo maior, como nos comunicaram”, alerta a dona de casa Ana Paula.
“É preocupante isso e faço até um apelo para a Equatorial reveja essa posição e olhe para nós mães, porque a internet de dados móveis (celular) é insuficiente para uma criança como a minha”, completa a mãe de Manoel.
Não muito distante da casa de Ana Paula, na mesma rua, na Gruta de Lourdes, outra mãe de filho autista, esse com o grau mais leve, também demonstra preocupação diante da possibilidade do corte de internet por causa da remoção dos postes da Equatorial no bairro. Ela é Alvany Pimentel, mãe de Luiz Gustavo Pimentel, 13 anos.
“Meu serviço é bom. Temos tv, google, praticamente vivemos com internet o dia todo, porque são muitas atividades. Além disso, meu filho também faz terapia via internet”, conta Alvany.
Pagando R$ 60, 00 por mês, ela diz estar bem servida pelo serviço de internet de bairro que usa, mas também tem receio de ficar sem internet por muito tempo. “A casa com certeza vai virar o caos. Ou melhor, nossa vida vai virar o caos, porque meu filho é hiperativo”, diz Alvany. “Não dá para usar internet de dados móveis (celular) porque não daria conta”, completa Alvany.
A mãe de Luiz revela outra atividade que depende da internet em sua residência. “Sou professora e dou aulas online com chamadas de vídeo e só com dados móveis não segura. Tem que ter essa internet com fibra óptica”, completa a professora.
Thawanna Karine Félix é uma pequena empreendedora que começou aos 15 de idade. Hoje, aos 31, mantém seu negócio há dois anos ofertando diariamente café da manhã, almoço e lanches diversos no food truck montado na Praça da Faculdade, no bairro do Prado, cuja estrutura sobre rodas lhe permite fornecer alimentos de maneira itinerante aos clientes.
Preocupada com a possibilidade de sofrer um impacto no seu negócio com a ameaça da desconexão por causa da ameaça de o serviço de internet parar, em função dos reparos nos postes sem comunicação prévia da concessionária de energia de Alagoas, Thawanna revela sua preocupação.
“A internet de bairro é mais viável, porque a assistência é quase imediata. Minha internet não cai e nem me deixa na mão, mas já fico preocupada se isso vier a acontecer”, ressalta a empreendedora.
Ela tem quatro funcionários e dois diaristas e a internet é primordial para seu negócio, porque atende suas necessidades e, principalmente, dos clientes, que sempre fazem uso do wi-fi e de outros serviços, como pix, por exemplo. Pagando apenas R$ 40, 00 de internet de bairro, afirma que sua internet lhe atende com alta velocidade.
“Uma empresa grande é tudo mais burocrático, demora para atender. Se fosse uma grande, eu pagaria o dobro ou mais de cem reais”, completa a empreendedora.
FIBRA ÓPTICA, O QUE É
A internet de bairro nada mais é do que o serviço prestado pelos provedores de pequeno porte (PPPs). É através deles que cerca de 60% da população com internet residencial via fibra ótica no Brasil mantêm sua casa com navegação na rede.
Eles são responsáveis por levar a tecnologia de navegação, principalmente a lugares mais afastados dos grandes centros. Nesse sentido, bairros periféricos, cidades litorâneas ou interioranas, zonas rurais e lugares ausentes de cabeamento são agraciados pelos PPPs.
Somente em 2019, mais de 1 milhão de domicílios brasileiros passaram a contar com a internet residencial. Em 2020, os números dessa conexão foram ainda mais expressivos, sobretudo por conta da pandemia de coronavírus. E boa parte do crescimento do setor é impulsionado justamente pela internet de bairro.
A Fibra óptica é um meio de transmissão que permite o tráfego de dados com altíssima velocidade — próxima à velocidade da luz.
A velocidade de transmissão de dados por fibra óptica pode ser até um milhão de vezes maior que o cabo metálico ou coaxial. Pela velocidade, volume e qualidade na transmissão, a fibra óptica é uma tecnologia que oferece alta performance a conexões de internet, levando o que há de mais avançado para o consumidor.
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