Um dia memorável. Foi assim o domingo (10) marcado pelo lançamento do Projeto Ginga Sertão, em Inhapi, Sertão de Alagoas. A iniciativa vai ofertar cursos gratuitos de capoeira para crianças e adolescentes ao longo dos próximos meses, com aulas também voltadas para manifestações da cultura afro-brasileira.
O evento, realizado no Ginásio de Esportes do Colégio Nossa Senhora do Rosário, reuniu dezenas de capoeiristas — veteranos e iniciantes — e contou com a apresentação do conteúdo que será oferecido no curso: capoeira angola e regional, samba de roda, maculelê, jongo, dança do fogo e puxada de rede. A roda de capoeira não faltou, garantindo o clima tradicional dos encontros.
“É gratuito. Totalmente gratuito”
À frente da ação, o Mestre Pelé, da Associação Alagoarte, explicou que o projeto será dividido em ciclos: “Um ciclo para cada curso, iniciando com Angola, em sequência a Regional e depois as danças afro’, disse.
As inscrições estão abertas, e, segundo o mestre, cerca de 80 pessoas devem participar. “É gratuito. Totalmente gratuito. Só vir fazer as inscrições e participar”, afirmou.
Vozes da transformação
O vídeo oficial do evento destaca histórias que refletem a importância social e cultural da capoeira. O pequeno José Pedro, de 10 anos, praticante há quase dois anos, resumiu o impacto da arte em sua vida. “Eu achei bonito e quis aprender também. Para mim, a capoeira é uma arte muito bonita. Quero me formar até a última corda”, disse.
A mãe dele, Eliane Souza, reforçou a mudança no comportamento do filho. “Ele ocupa a mente, em vez de estar na rua, está praticando um esporte bom para a mente e o corpo. Ele é filho único, e a capoeira ajuda, porque ele faz amizade”, contou.
Mulheres que rompem tabus
Espaço antes ocupado majoritariamente por homens, a capoeira vem ganhando cada vez mais adeptas. A capoeirista Bárbara da Silva relatou sua superação pessoal. “Comecei em 2017 acima do peso e, com a capoeira, emagreci. Depois descobri que estava grávida durante os treinos. Hoje voltei e trago meu filho comigo. A capoeira é saúde e superação”, relatou.
A jovem Brienny Melo, de 19 anos, também compartilhou sua trajetória. “Comecei com seis anos, precisei parar, mas voltei. A capoeira é libertação, é salvação. Me ajudou em um momento muito difícil”, disse.
Já a mais nova do grupo, Jhenyfer Caetano, de 15 anos, lembrou o início tímido e hoje sonha em se profissionalizar. “Eu tinha vergonha, mas um amigo me chamou e fui. Agora quero seguir e me tornar profissional”, afirmou.
Capoeira é família
A professora Lidiane Lima, de Delmiro Gouveia, destacou que a prática atravessa gerações. “Treino capoeira há 22 anos. Meus filhos entraram por escolha própria. Hoje treinamos juntos. Capoeira é coisa de família”, disse.
O mesmo sentimento é compartilhado por mães como Cleide Campos, mãe do pequeno “Ligeirinho”, de 7 anos. Ela conta que percebeu mudanças em casa. “Antes ele ficava só no celular. Agora bota música, pratica capoeira, mudou bastante”, contou.
Cultura, inclusão e cidadania
O evento contou ainda com a presença do influencer Kafé Silva, do grupo Filhos de Tigre, que veio de Florianópolis/SC. “Tive o prazer de reencontrar o mestre Pelé, com quem treinei em 2006. É um evento magnífico, que mostra a força da capoeira no Sertão”, relembrou.
O Projeto Ginga Sertão é promovido pela Associação Desportiva, Cultural e Artística Alagoarte, financiado pela Política Nacional Aldir Blanc, do Ministério da Cultura (Minc), em parceria com o Governo de Alagoas e a Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa (Secult).
Com rodas, cantos e histórias de superação, o projeto reforça a capoeira como ferramenta de inclusão social, disciplina e valorização da identidade cultural em Inhapi.
Veja o vídeo:
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