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O que queremos da COP30, é o tema da Carta da Sociedade Civil na III ICID e COP Nordeste
Sociedade Civil da Caatinga apresenta carta com o tema: "O QUE QUEREMOS DA COP30" durante a III ICID e COP Nordeste com apelo direto por justiça climática rumo à COP30
24/09/2025 09:08 24/09/2025 14:43 Haroldo Almeida
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Em um gesto de coesão e autonomia raramente visto em grandes conferências, organizações, redes, povos e comunidades do Semiárido brasileiro se organizaram paralelamente durante a III ICID (15 a 19/09/2025, Centro de Eventos do Ceará) para produzir e protocolar um documento oficial que expressa — com dados, vivências e afetos — os sentimentos e prioridades da Sociedade Civil da Caatinga. A carta, anexa ao documento geral do evento, dialoga tanto com a sociedade brasileira quanto com a comunidade internacional e é apresentada como contribuição direta à agenda da COP30, com uma mensagem central: sem justiça climática no Semiárido, não haverá justiça climática global.
Sociedade Civil da Caatinga participante da III ICID. Foto: Haroldo Almeida
Sociedade Civil da Caatinga participante da III ICID
Um chamado que brota do território
A carta nasce do “chão do Semiárido”, como afirmam as entidades signatárias, e ecoa a vida cotidiana de quem convive com a crise climática todos os dias: desertificação acelerada, êxodo de famílias, perda de biodiversidade e colapso hídrico em bacias cruciais. O texto denuncia que o modelo econômico vigente é predatório e insuficiente e rejeita a financeirização da natureza. Em contraponto, aponta caminhos concretos: protagonismo comunitário, agroecologia, economia solidária, governança social e justiça climática.
Mais que um inventário técnico, o documento é um retrato humanizado de um bioma vivo. A carta pede que a agenda climática confie no povo da Caatinga, valorize saberes tradicionais e científicos, e descentralize poder e recursos para quem cuida da água, do solo, da biodiversidade e das pessoas.
Reunião da Sociedade Civil na III ICID e COP Nordeste
Eixos e objetivos estratégicos
Entre os eixos priorizados, a carta destaca:
Justiça climática, social e socioambiental, com foco em povos e comunidades tradicionais, mulheres, juventudes, pessoas com deficiência e agricultoras/es familiares.
Juventude protagonista: formação técnica, trabalho digno e participação efetiva nas decisões.
Agroecologia como política de Estado no Semiárido.
Tecnologias sociais de saneamento rural (coleta e tratamento de esgoto domiciliar, reuso e aproveitamento de águas).
Transição energética justa e descentralizada, guiada por comunidades, sem “zonas de sacrifício”.
Segurança hídrica e alimentar: universalização do acesso à água para beber e produzir (cisternas, “segunda água”, água nas escolas).
ZEE participativo com Zonas de Restrição e Preservação em Áreas Suscetíveis à Desertificação (ASD), vedando eólicos/solares de larga escala e mineração nessas zonas.
Economia solidária e bioeconomia da Caatinga, com agregação de valor e acesso a mercados.
Reconhecimento e proteção de territórios, com regularização fundiária e manejo florestal comunitário, sem criminalização do uso sustentável tradicional.
Financiamento acessível e desburocratizado, com paridade para organizações da sociedade civil e agricultura familiar.
Crédito de Carbono Integral (CCI) e PSA comunitário, com MRV adequado à dinâmica da Caatinga.
Restauração produtiva em escala (horizontes de 5–10 anos), combate à desertificação e emancipação comunitária.
Política estadual participativa para convivência com o Semiárido e enfrentamento às mudanças climáticas.
Encaminhamentos prioritários à COP30 e aos governos
A carta elenca medidas executáveis já no curto e médio prazos, entre elas:
Programa de Proteção e Revitalização da Caatinga (PPR-Caatinga): restauração produtiva, viveiros, sementes crioulas, manejo adaptativo e MRV participativo.
Energia com justiça: moratória e regras socioambientais para eólicos/solares em áreas sensíveis; consulta prévia, livre e informada; avaliação estratégica; e benefícios locais obrigatórios (fundos comunitários, tarifas sociais, compensações territoriais).
“Um Milhão de Tetos Solares”: geração distribuída em residências rurais, escolas, UBS, assentamentos e equipamentos comunitários, com formação de jovens e mulheres instaladoras.
PSA Caatinga e carteira de CCI descentralizada, remunerando água, solo, biodiversidade e carbono com indicadores socioambientais.
Reequilíbrio orçamentário: no mínimo 50% dos recursos climáticos e do Plano Safra destinados à agroecologia, agricultura familiar e OSCs; editais simplificados e prestação de contas proporcional.
Cooperação internacional e fundos multilaterais com acesso direto às organizações comunitárias.
Licenciamento verde para manejo comunitário e restauração, com salvaguardas socioambientais e combate à grilagem, sem criminalizar usos tradicionais sustentáveis.
Tecnologias sociais de conservação de água e solo (ex.: Barramento de Base Zero — BBZ; SAFs; curvas de nível; reúso de água; cercas vivas).
Projetos de 5–10 anos com fases formativas e de consolidação, evitando metas dissociadas da realidade local.
Centros regionais de tecnologias assistivas e assistência técnica pública agrosilvopastoril.
Metas indicativas: restaurar ≥100 mil ha/ano até 2030; água segura universal no Semiárido até 2030; 1 milhão de telhados solares até 2030; proteger 200 mil ha/ano via CCI.
Governança social vinculante: conselhos com poder deliberativo nos fundos climáticos e incidência legislativa pela agroecologia, justiça climática e combate à desertificação.
Este modelo econômico atual não nos serve
Em tom de urgência e esperança, a carta afirma: “Este modelo econômico atual não nos serve.” O que serve — enfatizam — são modelos vivos que brotam do cuidado com a Caatinga, da sabedoria comunitária, da ciência comprometida e da governança social. A mensagem final convida governos, organismos internacionais, empresas e a sociedade a se unirem à luta da Caatinga por um futuro justo, vivo e sustentável: Justiça climática já.
Apresentação da Carta na Plenária Final
Entidades que assinam (lista aberta)
Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa- ASPTA / Paraíba
Associação Caatinga Verde / Bahia
Associação Comunitária de Desenvolvimento Sustentável - ACODES / Alagoas
Associação Cristã de Base - ACB / Ceará
Associação de Apoio às Comunidades do Campo - AACC / Rio Grande do Norte
Associação de Pequenos Produtores da Comunidade Carnaíbas - APPCC / Piauí
Associação dos Produtores de Crédito de Carbono Social do Bioma Caatinga - APCCSBC /Alagoas
BASE de Apoio da Caatinga do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima / Bahia
Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não-Governamentais Alternativas - CAATINGA / Pernambuco.
Centro de Ecotecnologias do Nordeste - CEN / Pernambuco
Centro de Educação Ambiental e Assessoria - CEAA / PIAUÍ
Centro de Pesquisa e Assessoria - ESPLAR / Ceará
Colegiado Territorial do Alto Sertão de Alagoas / Alagoas
Cooperativa de Crédito de Carbono Integral, Turismo Regenerativo, Energias Renováveis e Agroecologia Familiar do Bioma Caatinga e do Semiárido - COOPERA SERTÃO/ Alagoas
Cooperativa Regional de Produção Agroindustrial Luiz Carlos - COOPALC / Ceará
Cooperativa Regional dos Assentados/as de Reforma Agrária do Sertão dos lNHAMUNS - CRATEÚS - COOPERAMUNS / Ceará
Comitê de Bacia da Região Hidrográfica do Sertão do São Francisco - CBRHSSF / Alagoas
Fundação Araripe / Ceará
Instituto Cuidando / Ceará
Instituto Corrupio Povo Cariri / Ceará
Instituto InterCidadania / Pernambuco
Serviço de Tecnologia Alternativa - SERTA / Pernambuco
Universidade Federal do Cariri
Reserva da Biosfera da Caatinga
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST