Dentre tantas mudanças que surgiram ao longo do tempo, nada é tão memorável quanto a história de Nise da Silveira, a doutora Nise, uma mulher, nordestina, alagoana, médica psiquiatra, a única mulher em uma turma de quase 160 homens formandos em Medicina no estado da Bahia.
Destacou-se por sua luta contra choques elétricos e outras maneiras de tortura usadas no tratamento dado a pacientes com alguma doença mental na primeira metade do século XX. Como terapia alternativa, ela estimulou a prática das artes dentro dos manicômios, assim, os pacientes podiam se expressar de maneira artística e recebiam um tratamento mais humanizado.
Ela foi uma revolucionária em sua área e, por isso, em todos os ambientes sofreu perseguição, desconfiança e preconceito apenas por ser mulher em um ambiente que era majoritariamente dominado por homens, mas muito mais desconfiança por querer inovar e por condenar o que já era praticado e estabelecido como normal nesse segmento da saúde pública.
Todo seu trabalho influenciou a Psiquiatria no Brasil e no mundo, tendo seus feitos publicados e reconhecidos internacionalmente. Além disso, sua história foi retratada no filme “Nise: O Coração da Loucura”, estrelado pela atriz Glória Pires (2016). No entanto, apesar de tudo isso, há quem desconheça e ignore o trabalho e a história da médica psiquiatra.
Faz poucos dias que o presidente Jair Bolsonaro (PL) vetou a inclusão do nome da médica alagoana Nise da Silveira (1905-1999) no livro de “Heróis e Heroínas da Pátria”. Ele alegou que não ficou devidamente demonstrada qual foi a contribuição dela para o Brasil. O motivo, porém, não deve ter sido esse. Inegavelmente, sabe-se que a cultura e as artes em geral nunca foram ou serão uma das prioridades do atual governo.
Está claro que Nise não precisa ter o nome incluso em um livro para ser o que foi e o que é até hoje. A mudança de postura, se ocorresse, serviria tão somente para minimizar o vexame praticado pelo próprio ocupante que está de passagem pelo Palácio do Planalto, o qual perdeu mais uma oportunidade de ser menos negacionista.
Conforta-nos afirmar que o tempo é justo e é também, segundo o músico baiano Caetano Veloso, um “compositor de destinos”, ou seja, feitos, pessoas e história marcam vidas e ultrapassam gerações. Não há caneta que desfaça ou faça dar valor àquilo que o tempo perpetuou.
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