“Não troco meu ‘oxente’ pelo ‘ok’ de ninguém”. Assim dizia o dramaturgo, romancista e poeta brasileiro Ariano Suassuna, em uma de suas muitas palestras e encontros. Para ele, a língua portuguesa é a mais bonita, rica, viva e única, pois possui vocábulos e expressões que não há em nenhum outro idioma. Ontem, 5 de maio, foi celebrado o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura.
Com aproximadamente 280 milhões de falantes, o português é língua materna de diversos países como: Brasil, Goa, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Macau, Timor Leste, e também a sexta língua mais falada no mundo.
O português tem cerca de 400 mil palavras, mas utilizamos muito pouco dos recursos linguísticos que dispomos. Para se ter ideia, Guimarães Rosa, um dos mais importantes escritores brasileiros, utilizou aproximadamente 9 mil delas. Um adulto escolarizado chega a 2 mil e, para quem frequentou apenas o ensino fundamental, consegue pelo menos mil vocábulos.
Assim, quanto menos palavras se usam, mais pobre a língua fica. Ao mesmo tempo, recordamos que aos poucos nossa língua matriz está perdendo espaço para o “americanês” que a gente adora falar e “enfiar” no meio do nosso bem “dizido” português. Com isso, notamos uma mudança sistemática no dizer e agir do povo brasileiro.
Nota-se que é cada vez mais comum os pais registrarem os filhos com nomes em inglês. Do mesmo modo, comerciantes colocam o nome de seus estabelecimentos em língua inglesa. Anunciar liquidação, só se for “Black Friday”. Com esse tipo de comportamento, passamos a valorizar o estrangeirismo e pouca importância damos à nossa língua materna.
No final do século XIX, já dizia Eça de Queirós, um dos mais importantes escritores da literatura portuguesa, autor das obras “Os Maias”, “O primo Basílio” e “ O crime do padre Amaro”: “Um homem só deve falar, com impecável segurança e muita pureza, língua da sua terra. Todas as outras as deve falar mal, orgulhosamente mal, com aquele acento chato e falso que denuncia logo o estrangeiro”.
Não sabemos ao certo de onde veio tanto estrangeirismo, quem inventou e fez de moda os verbetes ingleses. Trata-se de um dizer enrolado, pouco explicado, que não traz simpatia e estraga a magia do bem dizer português. Se Ariano Suassuna vivo fosse, diria: “vou ser sincero a vocês, sou mais meu ‘quinem’, ‘adonde’, ‘prumode’, ‘heim?’, acho mais inteligente, eu não troco o meu ‘oxente’, pelo ‘ok’ de ninguém”.
Quem sabe não foi justamente esse jeito de falar de nossa gente, que transformou nossa língua e tornou o brasileiro essa pessoa amistosa e talentosa? Foi a partir do conhecimento, do uso e da riqueza de nossa língua que surgiram escritores tão marcantes no Brasil, como: Machado de Assis, Graciliano Ramos, Carlos Drummond de Andrade e Clarice Lispector.
Como valorização da língua portuguesa, Ariano Suassuna, conhecido pela obra “O Auto da Compadecida”, escreveu os seguintes versos:
Eu não falo REDBUL
Prefiro touro vermelho
MIRROR pra mim é espelho
BLUE BIRD pássaro azul
Bonito e não BEAUTIFUL
Falo dez em vez de TEN
BABY pra mim é neném
E HOT pra mim é quente
Eu não troco o meu oxente
Pelo ok de ninguém.
Não gosto de pancadão
Nem de rap improvisado
HIP HOP pé quebrado
Sem métrica e sem oração
Sou muito mais Gonzagão
No forró do xem, nhem, nhem
Gosto de aboio e também
De um baião de repente
Eu não troco o meu oxente
Pelo ok de ninguém.
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