Não é de hoje que boa parte das relações entre as pessoas são mediadas por documentos escritos: compra e venda de imóveis, de veículos, de mercadorias, matrícula em cursos, etc. Para a Justiça, o que está documentado em papel também tem grande valor como prova. Ensinamentos e obras literárias também são registrados com a palavra escrita. Mas será que a palavra dita, “solta ao vento”, ainda tem algum valor nos dias de hoje?
Com a invenção das máquinas de imprimir e copiar livros e documentos, em meados do século XV, a difusão do conhecimento científico, literário e religioso, que antes ficava restrita a poucos livros e Bíblias Sagradas reproduzidos manualmente, chegou a novos horizontes.
À medida que mais pessoas tiveram acesso a esse material reproduzido, ficou mais fácil acumular conhecimento. Os anciãos, pessoas mais velhas que acumulavam mais experiência, perderam um pouco de “prestígio”. Qualquer um poderia anotar e reproduzir o conhecimento que se tinha até então, sem depender apenas da memória e da vida de pessoas mais velhas.
Por outro lado, vale destacar que, bem antes da popularização da escrita e da invenção das máquinas de copiar, Jesus Cristo e o filósofo Sócrates não deixaram nada escrito. Seus ensinamentos e pensamentos foram transmitidos de forma oral, até que seus seguidores, em algum momento da história, escreveram o que eles haviam passado.
Com o passar do tempo, a palavra falada – a oralidade, por assim dizer – perdeu um pouco mais o seu valor. O que estava escrito tinha mais credibilidade, mais legitimidade. Esse processo de “confiança” também beneficiou os jornais impressos que surgiram a partir do século XVII.
Na atualidade, percebemos que nas relações humanas mais pessoais, a oralidade ainda tem, sim, um certo “peso”. É o caso, por exemplo, dos conselhos ou ensinamentos passados dos pais para os filhos. A conversa, quando existe, é “olho no olho”, para que se possa observar a reação um do outro, o olhar, a expressão facial.
Ao final, um espera que o outro cumpra ou obedeça ao que ficou estabelecido após a conversa, sem que para isso seja preciso documentar em papel.
Os casais também, em sua convivência, se utilizam da conversa e oralidade – quando não estão mediados por aparelhos eletrônicos que viabilizam a comunicação à distância – para estabelecer regras, limites ou simplesmente discutir a relação. Aqui, a palavra dita e “solta ao vento” continua valendo como antigamente.
Mas e no dia a dia, nas relações de trabalho, nas amizades, nos eventos públicos, na política, a palavra dita ainda tem valor? Quem as emite realmente cumpre o que diz?
É bem provável que a diminuição da credibilidade do que é apenas falado tenha muito mais a ver com a falta de compromisso de quem diz, principalmente quando assume uma responsabilidade que não cumpre, do que com o surgimento, séculos atrás, de documentos impressos que valiam como prova dessa responsabilidade.
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