Os irmãos Gleison Santos Silva, 11, e Emerson Santos Silva, 15, criaram e mantêm um circo em frente da residência onde moram com os pais, em Delmiro Gouveia, no Sertão de Alagoas. Eles são moradores do bairro Novo Horizonte, área periférica da cidade, e, logo que chegam da escola, já ficando de noite, iniciam a montagem do circo, com a ajuda de coleguinhas.
Todo o trabalho é acompanhado de longe pelos vizinhos. “Pra mim é uma iniciativa importante porque as crianças não estão na rua bagunçando, não estão fazendo o que não presta. Estão crescendo em uma coisa que a gente vai ter futuro na frente. A gente observa que tudo que tem num circo de verdade, os meninos têm no deles aí”, disse o vendedor de CDs, Alessandro Gomes, amigo da família.
Gleison foi quem teve a ideia de criar o circo a partir de uma lona de piscina inflável encontrada por ele na rua onde mora. “Na hora que eu botei a lona, aí eu inventei. Primeiro começou o circo aberto, depois foi fortalecendo”, contou o idealizador do circo, revelando que trouxe algumas ideias dos circos que teve a oportunidade de visitar quando eles se instalaram na cidade.
Ele teve a ajuda do irmão de quinze anos, que passou a fazer parte do circo, melhorou a estrutura dele e até ajudou na divulgação das atrações pela cidade. “Eu mesmo gravava a voz, botava uma música e saía anunciando, só que o povo nem dava ousadia”, relembrou. Mas isso foi apenas no início, agora que o circo da alegria está muito conhecido, divulgando ou não, o público comparece do mesmo jeito, grande parte apenas para dar força aos meninos.
Por outro lado, um apoio que os irmãos sempre podem contar é o da mãe deles. “Dou o maior apoio a eles. É melhor do que eles estarem andando maloqueirando. Graças a Deus não tem isso”, justificou a dona de casa Eliene Higino dos Santos. Mas, esse apoio que ela dá aos filhos tem uma condição: “Escola em primeiro lugar. Digo sempre a eles, vocês têm esse circo, mas continuem na escola”, explicou.
Gedilson Gomes da Silva, o pai dos meninos, está orgulhoso da iniciativa dos filhos e não perde uma só apresentação deles. “Eu quero que tudo dê certo para eles, nessa brincadeira que eles têm aí, que tou adorando, tou gostando”, disse.
O circo montado em frente da casa dos pais dos idealizadores fica em um espaço de cerca de 16m², onde cabem apenas cerca de vinte pessoas, no entanto, fica lotado nos dias de espetáculos. O público, maioria de crianças, se acomoda sentado ou em pé, no pequeno espaço ao redor do picadeiro - local onde acontecem as apresentações.
Enquanto os espectadores esperam ansiosamente, os palhaços se pintam e vestem seus trajes, alguns improvisados com pijamas. Os preparativos não demoram muito e logo começa o espetáculo, que tem cerca de duas horas de duração. O estudante Diego, de 10 anos, é o Palhaço Batatinha, Gleison é o Chupetinha e Emerson o Grandão. Eles não seguem um roteiro, tudo é improvisado, mas o público cai na gargalhada.
As pequenas dançarinas do circo são um show à parte. “Danço vai com o bumbum e treme o bumbum”, disse Maria Luiza, 8, irmã de Gleison e Emerson. Ela dança ao lado da amiga Andressa Xavier, 9, e outras meninas da rua, que ainda não tem um nome e, por isso, é chamada de Rua Projetada.
O circo funciona alternadamente três dias por semana e tem sete integrantes, entre palhaços e dançarinas, mas, se depender de Gleison, idealizador do projeto, no futuro a estrutura será bem maior. Ele sonha com um circo profissional.
O preço do ingresso para acompanhar os espetáculos do circo dos irmãos é de apenas um real e todo o valor arrecado é investido no próprio circo, que, para se manter, ainda conta com a ajuda de amigos da família. Nenhum dos integrantes é remunerado.
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