A redução da maioridade penal, apontada pelo ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) como uma das prioridades de Jair Bolsonaro (PL) em 2022, tem tudo para reforçar um quadro de dificuldades do governo na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado. O colegiado é presidido por Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Na volta do recesso em fevereiro, além da redução da maioridade penal, será prioridade da administração Bolsonaro apresentar uma PEC (proposta de emenda à Constituição) para autorizar o governo federal e os Executivos estaduais a reduzir ou zerar impostos que incidem sobre combustíveis.
O regimento do Senado determina que todas as PECs passem pela CCJ antes da votação no plenário. Sob a presidência de Alcolumbre, o cenário inóspito exposto com a indicação de André Mendonça para o STF (Supremo Tribunal Federal) tem poucas chances de mudar em 2022.
Tramitam no colegiado diversas PECs que reduzem a maioridade penal de 18 para 16 anos. A principal delas é a PEC 115/2015, que já passou pelas mãos do então senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) e de Marcelo Castro (MDB-PI), mas hoje aguarda designação de novo relator.
Integrantes da CCJ do Senado veem a possibilidade de a pauta avançar com ceticismo. Lembram que a proposta é polêmica e divide a opinião da sociedade –fatores que o Congresso costuma evitar em anos eleitorais.
Para o senador Lucas Barreto (PSD-AP), colocar a redução da maioridade penal em pauta neste ano vai transformar a discussão em palanque eleitoral. Ele disputará a vice-presidência da CCJ, que ficará vaga quando Antonio Anastasia (PSD-MG) assumir seu assento no TCU (Tribunal de Contas da União).
“Tem que tentar buscar políticas públicas para tirar o jovem da violência, da droga”, afirmou Barreto. “Vai ter que ter debate, ter reunião. Em formato remoto [de participação dos congressistas], não vai a lugar nenhum”.
Outro obstáculo inerente a uma PEC é a necessidade de o governo obter o apoio da chamada maioria qualificada –ou seja, pelo menos 3/5 dos votos totais– em ambas as Casas, com votação em 2 turnos. Precisaria, no mínimo, de 308 votos favoráveis na Câmara e 49 no Senado.
Além de concordar com a dificuldade de se aprovar uma proposta polêmica no Congresso em ano eleitoral, o senador Paulo Paim (PT-RS) diz que, mesmo se passasse, a redução da maioridade penal terminaria em uma disputa no STF.
“Há quem diga que a PEC tem um vício de constitucionalidade, ou seja, fere cláusula pétrea porque vai abolir direitos e garantias individuais dos adolescentes”, declarou o petista.
No mérito, Paim se posiciona contra a redução da maioridade penal. “Sou contrário a um sistema que vai na linha de punir jovens. Esse sistema não recupera ninguém. Prende e sai de lá como se fosse uma faculdade do crime. Não busca promover reinserção social”.
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