A história de Lula é algo notável. Veja, não estou elogiando nem muito menos criticando, mas, independentemente do sentimento que se nutra por ele, amor ou ódio, ninguém pode negar que Lula tem uma história que em nada é comum.
Sendo o sétimo filho de um total de oito irmãos, ele nasce em uma família pobre, em uma cidade pobre, em um Estado pobre, em uma região pobre. Como tantos nordestinos, Lula não tinha absolutamente nada em seu favor. Sua família, seguindo a trilha de tantas outras, decide aventurar-se em São Paulo, que durante muito tempo foi a Eldorado dos nordestinos pobres. Já se pode imaginar que viajar em um meio de transporte apelidado de “pau-de-arara”, não era coisa boa. Pegava-se um caminhão, cobria-o com lonas, e colocava-se tábuas, sem encosto, as quais serviam assento. Por mais confortável que seja uma poltrona, chega um momento que a região glútea começa a doer quando se fica sentado nela por muito tempo. Imagine então ficar sentado em um pedaço de madeira, tão macia quanto o cassetete de um soldado. Some-se a tudo isso ainda o fato de que, por não haver encosto, as costas começavam a arder, depois começam a doer, para em seguida arder e doer ao mesmo tempo, ou seja, “queimar”.
Lembrando ainda que a situação das estradas brasileiras era deplorável, e asfalto só havia em alguns trechos, de forma que o chacoalhar do caminhão, que era construído para transportar matéria bruta inanimada, e não gente, dava um requinte de crueldade.
Sim, dormia-se, ou tentava-se dormir, ali mesmo. E também sim, banho só quando chegava. Sim mais uma vez, o banheiro era ao ar livre. Como quem se utilizava aquele meio de transporte (que também era meio de tortura), eram os retirantes — os fugitivos da pobreza —, então parar para comer em algum lugar era até impossível, talvez só o motorista ou algum outro viajante. Era o jeito levar algo para ir comendo! O cardápio predominante era composto pelos três elementos que os pobres nordestinos sempre se valeram para não sucumbir à fome: farinha de mandioca, charque e, a grande amiga dos nordestinos, a rapadura. Ingerir uma certa quantidade de farinha, comendo um pedaço de charque, tendo por sobremesa uma lasquinha de rapadura, tudo isso “temperado” com uma caneca de água turva, salobra e em temperatura ambiente (ou seja, morna), pode até não ser o mais apetitoso os cardápios, mas de fato afastava a fome.
A viagem durava longos e desgastantes 13 dias (“13”! Do que você se lembra? Será que foi por isso que ele usou o número “13”?!)
Então, após quase duas semanas neste martírio, enfim se chegava à São Paulo.
Por tudo isso o menino, que à época ainda tinha dez dedos nas mãos, passou em busca de uma vida melhor. E, não há como negar, ele a encontrou!
Com essa história de vida, o simples fato de ter se tornado torneiro-mecânico, já seria um feito exemplar para que chegou em São Paulo, “tangido” pela miséria, em busca de algo melhor do que a fome.
La se foram várias décadas desde a viagem de “pau-de-arara”. Muitas outras coisas se foram e, muitos outras coisas vieram: vieram os filhos; se foram duas esposas; vieram os anos de movimento sindical; se foi um dedo; veio o cargo de deputado federal; se foram três eleições perdidas para presidência; veio o topo da República.
Quem foi para São Paulo de “pau-de-arara”, na tentativa de encontrar um emprego de porteiro ou servente de pedreiro, e voltou de lá no avião da presidência, de fato é uma pessoa notável. Ser eleito Presidente da República, em uma República como o Brasil, é um feito notável. E digo isso não apenas pelo fato de que para se eleger ao cargo público mais importante da nação, requer-se um conjunto de fatores favoráveis, aliados a outros conjunto de fatores políticos e financeiros. Mas, além de tudo isso, também não é fácil eleger-se em um País onde, por décadas afio, foram os mesmos personagens que ocuparam o Poder. Inacreditavelmente, Sarney ainda tá vivo, e anunciou que vai se candidatar novamente ao Senado. Você consegue se lembrar de algum momento na história de sua vida onde José Sarney não estava no Poder?
É justamente isso que estou afirmando, Lula teve que batalhar contra todas as coisas que naturalmente já são difíceis na jornada ao Planalto, e ainda teve que lutar contra caciques políticos longevos.
Eleito e reeleito, para o posto político mais importante do Brasil, e ainda como se já não bastasse, elegeu, e reelegeu, sua sucessora. Aliás, diga-se de passagem, na minha modesta e insignificante opinião, não sei qual foi o maior trunfo de Lula: se vencer na vida e chegar à Presidência, ou se conseguir o feito épico, monumental e inigualável de conseguir colocar sua sucessora em seu lugar. Para falar a verdade, uma mulher desconhecida, desprovida de formosura física, chata, sem habilidades com as palavras, e com o registo de “terrorista” em sua folha de antecedentes criminais, não arrumava emprego nem de substituto de vigia noturno do IML.
De fato, “Lula lá” foi difícil, mas pô-la lá foi um feito épico.
Se há quem mate e morra para se eleger como vereador, ou então apenas conselheiro tutelar, o que as pessoas fariam para ser Presidente da República?! Pois é, mas “Lula Lá” chegou lá. E estando lá por oito anos, deixou o governo com uma aprovação de mais de 80%.
Mas a vida continuou, e vieram acusações de todo tipo: mensalão, refinaria, Celso Daniel, tríplex, sítio, Whisky, etc. E ainda disseram que ele, ou seu filho, eram os donos da “Oi”, da Telemar, a Friboi, da Odebrecht, e de tantas outras empresas.
Todos esses ingredientes juntos, formaram uma sopa chamada de “Operação Lava-Jato”, cujo Chef (como chamam quem cozinha para rico), o juiz Sério Moro, vem preparando já há muito tempo. Aliás, me pergunto se essa sopa já não teria passado do ponto. É que a comida quando fica muito tempo no fogo, ela queima, e uma vez queimada ninguém vai querer comer. Pode até comer, e ainda dizer que “tá gostoso”, mas que passou do ponto, ah! isso passou (me refiro à sopa...).
Há quem goste de comer lula. Acredito que Moro aprecie. Particularmente acho um bicho horrível.
Bastava uma acusação séria, com provas robustas e inquestionáveis, tudo feito mediante um processo judicial, nem muito curto nem muito longo, que respeitasse os direitos dos acusados (ou, ao menos, aparentasse respeitar). E, “Voilá!”, o prato estava perfeito. Cor, sabor, textura e aroma, tudo estava como deveria. Uma obra-prima de um chef perfeccionista. Era só sentar-se à mesa, e deliciar-se com a sopa.
Mas, como diz um velho adágio popular, “o xerém tá perdido!”. Pelo caminho que tudo vem acontecendo, nem lula no prato, nem Lula na cadeia.
“Alto lá!” — alguém poderia vociferar — “A lula tá morta e cozida. Pode até ter passado do ponto, mas o bicho ta morto!”.
Você que pensa! Antes da operação Lava-jato Luta tinha aproximadamente 16% de intenção de voto. Agora, depois do “Caldeirão do Moro”, ele tá com mais de 30%.
Diz a lenda que: era uma vez um caçador que vivia em uma cabana na floresta. Cansado de comer javali magro, ele capturou um javali na intenção de engordá-lo para preparar um belo cozido de javali. E assim o fez! Amarrou-o com cordas, e todos os dias alimentava o animal, na intenção de engordá-lo até chegar o momento de abatê-lo e então preparar um suculento cozido de javali. Amarrou o animal bem na entrada da sua casa, em uma das colunas de madeira que sustentavam o telhado do pequeno alpendre, pois, pensava o caçador, se o javali tentar fugir, eu ouvirei e impeço a fuga do bicho. Certo dia, quando o caçador chegou em sua cabana, ficou horrorizado com o que viu. A cabana estava totalmente destruída. O Javali conseguiu fugir puxando a coluna da cabana na qual o caçador tinha amarrado, que, não suportando mais a força do cevado javali, quebrou derrubando a cabana sobre algumas brasas de uma fogueira feita no dia anterior. O bicho estava solto. É que de tanto comer, o javali ficou forte. O caçador, movido pela cobiça de comer um javali gordo, perdeu o tempo certo do abate. Isso é o que dá quando o caçador alimenta demais a caça. A estória conclui com o javali voltando para a floresta e sendo eleito como o rei dos javali, não apenas por ter sido o único javali que conseguiu escapar do malvado caçador, mas também por ter sido considerado o mais encorpado de todos os javali da floresta.
Ressuscitaram o bicho! Não o javali, mas a lula, ou melhor, o Lula.
Os cozinheiros inexperientes, geralmente põe algum ingrediente em excesso, achando que o sabor está na quantidade, e não no ponto certo. O problema é que foi ingrediente demais, e perderam o ponto, queimaram tudo e o pior, estão servindo como se aquela mistura indigesta, feia, dura e malcheirosa, fosse um requintado prato delicadamente elaborado.
O resultado é diarreia!
O problema também é que quando se coloca muitos ingredientes na sopa, ela deixa de ser sopa e vira o que se chama de “gororoba”. Pois bem, o prato que deveria se chamar “Sopa de Lula à Moda do Moro”, agora, depois de queimado e do excesso de ingredientes que jogaram na panela, deve ter outro nome, talvez algo do tipo “Gororoba Queimada à moda da Globo”.
De tantas acusações feitas a ele, acredito que parte seja verdade, e, obviamente, parte seja mentira. Sinceramente, mesmo não sendo um militante do partido da estrela solitária, e que vem ficando cada dia mais solitária, estou inclinado a pensar que grande parte das acusações é fruto apenas da mídia, que encontrou em Lula, um ingrediente extraordinário para fazer a gororoba nossa de casa dia, e servi-la quatro vezes ao dia: no Bom dia Brasil, no Jornal Hoje, no Jornal Nacional e no Jornal da Globo.
Por mais saboroso e refinado que seja um prato, não há quem aguente comê-lo em todas as refeições. Tratando-se de uma gororoba queimada então, não há quem consiga comer nenhuma vez sequer.
O xerém tá perdido, o javali fugiu e transformaram a sopa em gororoba. Tudo isso porque o caçador perdeu o momento certo do abate, e porque o chef “errou a mão” e pôs ingredientes demais.
Diante do cenário político-econômico no qual o Brasil se encontra, acredito que se a justiça federal não confirmar a condenação do javali, ele volta a ser rei da floresta. E se isso acontecer, não podemos esquecer que foi a Operação Lava-Jato e o Juiz Sérgio Moro quem fizeram com que Lula voltasse a ser o tema central dos noticiários, e isso não deixa de ser também uma forma de publicidade pessoal.
Se chegar à presidência novamente, será uma ingratidão indesculpável de Lula não agradecer à Sérgio Moro.
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