Em nada ajudou às profissionais de Enfermagem a fantasia de “enfermeira sexy” usada pela atriz Bruna Marquezine no último fim de semana para ir a uma festa de Halloween. A vestimenta usada pela atriz, mesmo que tenha tido o interesse de mostrar irreverência ou bom humor, só serviu para reforçar um estereótipo indesejado, injusto e que não valoriza as profissionais de Enfermagem.
Essas mulheres, que dedicam anos de estudo para obter uma formação séria e conseguir emprego em uma atividade tão essencial, que é cuidar das pessoas, além de conviverem com baixos salários e sobrecarga de trabalho, não raramente são vítimas de assédio e abusos profissionais.
Assim, a sexualização evidente na fantasia da atriz, que é uma das pessoas mais seguidas nas redes sociais no Brasil, ou seja, uma influenciadora digital, não ajudou em nada às enfermeiras. Pelo contrário, atrapalhou.
Diante da situação, o Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) acertadamente divulgou uma nota em que repudia a atitude da moça. “Repudiamos veementemente essa conduta, pois ela incentiva a sexualização de uma categoria que há décadas luta por valorização e respeito. São trabalhadoras que enfrentam sucessivas jornadas de trabalho, em seus lares e no cotidiano profissional e que não merecem ou devem ser estereotipadas dessa forma", diz a nota.
"A enfermagem é uma profissão que exige conhecimentos técnicos, anos de estudo e muito empenho e dedicação em seu cotidiano. Além disso, por ser uma categoria predominantemente feminina, com mais de 80% de mulheres, sofre os impactos das desigualdades de gênero, o que inclui episódios de violência e assédio", reforça outro trecho da nota do Coren-SP.
O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) também divulgou nota sobre o episódio. “Esse tipo de conotação sexual é inadmissível em um país misógino, machista e violento como o Brasil. O que pode parecer um gesto inofensivo, na verdade, contribui para erotizar a imagem de uma profissão que, historicamente, sofre com assédios, violências e abusos psicológicos de toda ordem. São 2,5 milhões de profissionais de Enfermagem no Brasil: 85% são mulheres. Praticamente todas elas têm alguma história de assédio moral ou sexual para contar. Uma realidade lamentável, que precisa ser combatida diariamente”, diz trecho da nota.
Assim, passada a “lacração” nas redes sociais, recebidos todos os likes, cliques e comentários possíveis pelo uso da fantasia e terminada a festa de Halloween, está mais do que na hora da atriz refletir com maturidade e fazer um pedido de desculpas à categoria. É o mínimo que se espera dela agora.
E, caso queira realmente ajudar às profissionais de Enfermagem, bem que ela poderia usar a influência que tem nas redes sociais para cobrar dos parlamentares a aprovação do projeto de lei que estabelece a carga horária de trabalho e a remuneração mínima nacional para enfermeiros e técnicos de enfermagem.
A luta é grande, há um desequilíbrio de forças políticas, sendo as trabalhadoras o elo mais frágil, e as profissionais precisam de apoio, respeito e valorização, inclusive de quem tem muita saúde, fama e influência, mas que em algum momento da vida já precisou ou vai precisar do trabalho das enfermeiras.
Utilize o formulário abaixo para comentar.