Em meio à pandemia do coronavírus, olhe ao seu redor e reflita: tem alguém cuidando de você? Da casa, da alimentação e das crianças? Ao redor do mundo, temos observado que o papel desse “alguém” é atribuído, majoritariamente, a uma mulher. Mesmo diante de uma tragédia sanitária e econômica, a materialização e a realização dos cuidados com as tarefas domésticas e com os dependentes têm sido atribuídas às mulheres.
Geralmente, estas mulheres ocupam e assumem inúmeras funções, e ser mãe é apenas uma delas. Com uma rotina de home office, muitas mães passaram a trabalhar de casa, além de dar conta do próprio trabalho, a mãe ainda precisa se “virar nos 30” para cuidar dos filhos e ajudá-los com aulas a distância. Tudo isso em 24 horas e os 7 dias da semana.
Se pensarmos com empatia, notaremos que essa conta não fecha. Afinal, para as mulheres, cuidar dos filhos não se resume a garantir unicamente a higiene e a alimentação. Para elas, cuidar inclui brincar, conversar e dar atenção. Mas, como conciliar e realizar tantas atribuições e se manter bem psicológica e fisicamente? Como elas não conseguem dar conta de tudo isso, a maioria começa a sentir-se frustrada.
Com creches e escolas fechadas, com o isolamento social estabelecido e os serviços básicos paralisados ou voltados ao combate da pandemia, muitos pais e mães não somente ficaram ainda mais sobrecarregados, mas sem condições de suprir as necessidades de suas famílias. Com isso, muitos filhos passaram a ter mais horas em frente às telas de TV, smartphone e computador ao longo do dia.
Além disso, não raros momentos, durante uma reunião de trabalho em home office, as mães precisam calar o choro, o grito e o chamado do filho. Nem todas as empresas possuem um olhar compreensivo e entendem que esse momento é uma realidade bem diferente para elas, como mães de filhos pequenos e profissionais em home office, bem como para suas equipes de forma geral.
Por essa razão, é preciso que empresas do setor privado e instituições públicas que empregam mulheres mães pratiquem uma metodologia diferente para elas, de modo que possam atender às demandas profissionais e pessoais do lar e da maternidade. Um entrave para isso, apesar de estarmos no vigésimo primeiro ano do século 21, é que os cargos decisórios de corporações privadas e de governos e instituições do setor público são ocupados, majoritariamente, por homens, os quais, na maioria das situações, não possuem esse olhar sensível às novas necessidades da profissional mãe em home office.
Neste contexto, precisamos construir a noção de sociedade igualitária, humana e justa e, para isso, se faz necessário reaver nossos papeis no âmbito social e familiar. Precisamos dividir tarefas, dividir cuidado e espalhar empatia, pois ser mãe já é uma atribuição forte demais para lidar sozinha. Afinal, elas já se culpam e se cobram em demasiado, pois precisam reafirmar diariamente que são humanas e não uma construção utópica da “mãe-maravilha”.
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