Quem faz associação entre pobreza e criminalidade, geralmente, vive bem longe dela, no conforto da civilização, dentro de uma casa luxuosa, com vários empregados e carros importados na garagem. Para o rico, os pobres são seres abstratos, idealizados ou, ainda pior, material de estudo ou mascotes da politicagem.
Aquele que costuma viver da miséria alheia e fala o tempo todo daquilo que não conhece tende, de forma extremamente ofensiva, a fazer essa associação entre ‘desigualdade’ e ‘marginalidade’. Pensando desta maneira, proponho a seguinte reflexão: se a violência é causada unicamente pela desigualdade, como afirmam alguns especialistas e intelectuais, então como explicar os inúmeros casos de corrupção e desvios milionários de dinheiro público cometidos por pessoas já ricas, como nossos representantes na política?
Além disso, como explicar os motivos que levam os jovens de classes média e alta a cometerem crimes, como mostra o noticiário ao longo dos anos? Tempos atrás, em 1997, um índio pataxó, chamado Galdino José dos Santos, foi queimado vivo enquanto dormia em uma parada de ônibus, em Brasília. Naquela época, o crime chamou muita atenção, pois os autores dessa brutalidade eram jovens de classe média alta.
Este caso fez cair por terra o discurso de que jovens ricos não são suscetíveis à marginalidade, porém, o discurso utilizado pela mídia para se referir ao tema já deixa claro a diferença de tratamento: “bandido rico” é “jovem de classe média que comete crime”; “bandido pobre” é “criminoso”. Frases assim são comumente percebidas nos noticiários.
Na prática, agimos assim, somos lenientes com os nossos semelhantes e duros com aqueles que não se enquadram na sociedade: o pobre, o índio, o mendigo, as prostitutas, os homossexuais, etc. Estes são seres ‘descartáveis’ que vivem para atrapalhar e ameaçar com sua existência, pois não se enquadram nos padrões estabelecidos pelas classes dominantes.
De modo geral, não adianta dizer que deveria prevalecer a justiça, pois, notamos que é mais fácil permanecer preso um pobre que roubou um litro de leite, um xampu ou meia dúzia de ovos, do que um empresário que se corrompeu ou um político que foi corrompido ficarem presos, mesmo a corrupção causando tanto mal à população quanto os roubos à mão armada ocorridos nas ruas da cidade.
Afinal, “o rico não representa risco à sociedade e não causou lesão ou ofensa grave”, ou seja, segue o princípio da insignificância. Insignificância mesmo é quem não tem um bom advogado, dinheiro ou imunidade política. Para estes, endinheirados, provedores de privilégios, a prisão, em regra, só acontece ao fim do processo, enquanto isso, vivem em suas luxuosas mansões.
Utilize o formulário abaixo para comentar.