“Um livro que inspira e reconforta numa época de perplexidade.” Mansour Challita (Tradutor)
Gibran Khalil Gibran nasceu no Líbano, em 1883. Foi ensaísta, prosador, poeta, conferencista e pintor. Fez carreira nos EUA, escrevendo diversos livros em inglês e em árabe. Também se dedicou às artes, participando de exposições individuais e coletivas em Boston, Nova Iorque e Paris. Era leitor eclético — diz-se que apreciava muitíssimo os textos da Bíblia Sagrada, e ainda lia Nietzsche e William Blake. Faleceu muito jovem, aos 48 anos, em 1931.
Seu livro mais conhecido, “O Profeta”, nos surpreende de imediato pela profundidade do pensamento místico oriental aí contido e pelo estilo quase parabólico. A cada frase é-nos apresentada uma filosofia perene de vida, uma sabedoria antiga e experimentada, fruto de contemplação e entendimento da existência. Há elementos simbólicos, tais como “águia”, “noite, “árvore”, “frutos”, “colinas”, “cálices”, “colheitas”, “portões”, “ruas”, “túnicas”, “barcos”, “o espírito”, “o Sol”, “o campo”, “a aurora”, que nos remetem aos sabores da espiritualidade medieva oriental e ao Mediterrâneo. Há ainda palavras e sentires que demarcam as veredas do texto, precisando o estado de espirito do narrador e da personagens, tais como “nostalgia”, “etéreo”, “alegria”, “solidão”, “recordação”, “memórias”. Todavia, são as frases, as belíssimas frases que compõem este livro que fazem dele um clássico indispensável da literatura libanesa e universal. Por causa disso, às vezes penso que Ítalo Calvino leu e inspirou-se em “O Profeta”, para escrever o seu “As Cidades Invisíveis”. Talvez esta conexão ocorra porque ambos eram mediterrâneos e experimentavam, por assim dizer, da mesma antiga tradição — o amor à pátria, ao lugar, à cidade antiga, à paisagem ancestre, à cultura, ao vernáculo. É patente a noção profunda de “enraizamento”, de “ancestralidade” e de “identidade”, em seus efeitos objetivos, em sua representação simbólica.
Na apresentação da minha 3ª edição, ilustrada com desenhos do próprio autor, Mansour Challita (Tradutor) argumenta — “O livro inspira e reconforta numa época de perplexidade. É um retorno simultâneo à natureza e aos assuntos básicos da vida, levando o leitor ao mais cândido de si mesmo e ao mais remoto dos seus dias, seduzindo pela filosofia da vida nele contida. Gibran era um guia espiritual que ambicionava definir um ideal de vida para si mesmo e para todos os homens, não propondo heroísmo, mas a grandeza, não convidando a renunciar à vida, mas sermos dignos dela.”
O livro apresenta-nos a narrativa acerca da vida do profeta Al-Mustafa, denominado “O Escolhido” e o “Bem-Amado” que por doze anos reside em Orphalese, uma cidade à beira do mar. O livro se inicia momentos antes de sua partida à terra natal. E seu elemento mais potente reside no “Impasse”, isto é, entre ficar e seguir, entre viver aqui e recomeçar lá. A partir do “Impasse” (talvez o elemento existencialista mais pungente para nós, seres humanos) Al-Mustafa discute o sentido da vida. Acerca disto, seu narrador escreve:
“[...] e viu o seu navio aparecer com a bruma. Então as portas do seu coração abriram-se e a sua alegria voou longe sobre o mar. E ele fechou os olhos e orou no silêncio da sua alma. Mas enquanto descia a colina, apoderou-se dele uma grande tristeza e pensou com o coração: Como poderei partir em paz e sem mágoa? Não, não vou sair da cidade com uma ferida no espírito. Muitos foram os dias de dor que passei dentro das suas muralhas, e muitas foram as noites de solidão; e quem pode separar-se da dor e da solidão sem mágoa? Espalhei demasiados fragmentos do espírito por estas ruas, e muitos são os filhos da nostalgia que caminham nus por estas colinas, e não posso afastar-me deles sem peso nem dor. Não é a roupa que hoje dispo, mas uma pele que arranco com as minhas próprias mãos”.
“O Profeta” — com sua estrutura e enredo simples, com os monólogos profundos de Al-Mustafá, e ainda com seus elucidativos diálogos sobre a sabedoria da vida — nos convida ao despertamento de uma natureza genuína em nós, isto é, a bondade. Há ainda um chamado à esperança, à empatia, à consciência universal, ao avocar do Serviço da Caridade. Há um chamado à espiritualidade milenar, à eternidade do espírito, à acolhida e cuidado do outro. Sobretudo, reitero, o chamado à esperança, (mesmo após àquela nossa travessia histórica às bordas do precipício cavo da Modernidade), para que desenvolvamos as reservas de bondade soterradas sob as amarguras e a dureza dos elementos mundanos da existência, tais como a “tecnociência”, o “desencantamento de mundo” (Nietzsche, Marx, Weber e Freud), a dissensão religiosa e o egoísmo inerente às relações capitalista. “O Profeta” é também um chamado para a resistência à finitude.
Lembro-me que em 2002, o amigo Renato Alves de Oliveira, “Renatinho”, apresentou-me o livro e disse-me ainda — “A obra-prima de Gibran nos convida a sermos dignos da vida, para vivermos no seu plano mais elevado.”
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