Ainda repercute no meio político de Alagoas o teor da reportagem do jornalista Wadson Correia, do SBT Alagoas, que discorre sobre uma série de denúncias que leveram o Ministério Público Estadual (MPE/AL) e Ministério Público do Trabalho (MPT/AL) a investigarem uma suposta organização criminosa que teria se instalado na Prefeitura e Câmara de Vereadores de Olivença, com a possivel finalidade de pagamento de propinas e enriquecimento ilícito.
Numa das cidades mais pobres de Alagoas, destaca-se os veículos de luxo e valores milionários adquiridos pelo prefeito Josimar Dionísio (MDB), conhecido como "Jó" (MDB), e sua família e a mansão onde mora o gestor, no centro da cidade, além de uma luxuosa chácara situada no município. O MPE/AL investiga como o prefeito e sua família, que não eram ricos, conseguiram adquirir os atuais patrimônios com os salários que recebem, inclusibe esse foi o motivo que levou o Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) a investigar todos eles.
De forma independente, para seu canal de investigação no Instagram, o jornalista Wadson Correia, esteve no município onde ouviu o vereador Antônio Soares de Melo, conhecido como "Antônio Agostinho" (PL), sétimo mais votado na eleição de 2020, quando obteve 325 votos.
O político confirmou na reportagem o que declarou durante 19 horas de depoimento no MPE/AL, que o presidente da Câmara, Genival Dionísio Barbosa Neto, o "Valzinho do Jeci", a mando do prefeito, de quem é irmão, pagava "propinas" aos vereadores, inclusive a ele próprio. Conforme o edil, os pagamento a ele seguiram por quatro meses.
Segundo o vereador denunciante, o dinheiro era para eleger o irmão do prefeito como presidente do Legislativo Municipal. Confirme ele, o valor proposto foi de R$ 50 mil para cada vereador, de modo que o então presidente, vereador Agnaldo Oliveira, teria recebido cerca de R$ 100 mil para desistir de concorrer novamente e "ajudar" na eleição de seu sucessor, o "Valzinho do Jeci".
O vereador, que acusa "Jó" de desviar dinheiro público, quando perguntado se ele temia ser vítima de violência após as denúncias, disse que "graças a Deus tenho Deus na frente e não tenho medo deles, e se eles tocarem em mim, eles vão responder".
Em outubro do ano passado, em entrevista ao programa "Liberdade de expressão, na Rádio Milênio (90,7 FM), o vereador revelou que o prefeito "Jó' lhe devia cerca de R$ 85 mil e que só havia lhe pago R$ 15 mil após muita insistência. O dinheiro emprestado pelo vereador teria sido usado para financiar a campanha do prefeito.
Outro ouvido pela reportagem de Wadson foi o ex-prefeito de Olivença, Mailson Bulhões, ex-aliado de "Jó". Mailson, que afirma ter rompido por não concordar com algumas atitudes do prefeito, denunciou o suposto desaparecimento de quase R$ 5 milhões da previdência do município. O ex-prefeito suspeita que para acontecer o suposto desvio o prefeito tenha fraudado documentos da previdência.
Na zona rural o jornalista se deparou com a falta de água nas torneiras dos moradores. Problema que se arrasta há mais de um ano. À equipe de reportagem uma dona de casa revelou que para ter direito ao atendimento por parte do município "o dono da casa casa tem que apresentar o título de eleitor". Segundo a moradora, o próprio prefeito "escolhe" as pessoas que terão direito a água.
Já o MPT/AL constatou, durante uma fiscalização in loco em Olivença, a contratação pelo município de pessoas para fazerem o serviço de limpeza na cidade sem os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e com "salários" mensais de apenas R$ 381 reais. A procuradora do trabalho Marcela Dória confirmou que após uma série de denúncias e a constatação dos fatos, notificou o prefeito de Olivença.
No início desse mês, após denúncias de suposta promoção pessoal com recursos públicos, o que exige medidas de contenção, podendo culminar em improbidade administrativa, o promotor de Justiça Alex Almeida, da 2ª Promotoria de Justiça de Santana do Ipanema, moveu ação civil pública com obrigação de fazer em desfavor do Município de Olivença, bem como do prefeito Josimar Dionízio que, em atos contínuos, teria ordenado que espaços públicos e veículos da frota municipal fossem pintados com as cores do seu partido político, que no entender do MPE é uma forma velada de campanha eleitoral.
Também neste mês de abril, após esgotadas todas as tentativas, entre procedimento administrativo e inquérito civil, sem que lograsse êxito, e priorizando o que propõe a Lei de Acesso à Informação, o MPE ajuizou uma ação civil pública em desfavor do Município e do prefeito "Jó", por suprimir do Portal de Transparência informações acerca de licitações e/ou contratos de construção de escolas municipais. As denúncias foram feitas via Ouvidoria do Ministério Público e as cobranças iniciadas em janeiro de 2022.
O jornalista Wadson Correia tentou ouvir o prefeito e seu irmão, o presidente do Legislativo Municipal, mas nenhum deles foi encontrado.
No final da manhã desta quarta-feira (24), após a reportagem ir ao ar, o prefeito Josimar Dionísio usou sua página no Instagram para tentar passar a opinião pública que todas as denúncias tem conotação política partidária, acusando integrantes de partidos da oposição, que lhe ajudaram a ser eleito, como os responsáveis pelas denúncias.
Assista à reportagem:
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