O Programa de Identificação e Localização de Pessoas Desaparecidas de Alagoas (Plid/AL) só terá sentido se o procurador-Geral de Justiça, Alfredo Gaspar de Mendonça, enfrentar a banda das polícias responsável por um punhado destes “sumiços”.
Isso porque Alfredo Gaspar foi secretário de Segurança Pública e, no cargo, não conseguiu desmontar a tese do “bandido bom, bandido morto” que ronda um pedaço das polícias. Tese que criminaliza o público clássico: os pretos, os pobres e protege os “homens de bem”.
Tese, por óbvio, homenageada até por responsáveis por assassinatos de repercussão em Alagoas.
Algo incrível. E impensável.
À frente do MP, Alfredo Gaspar tem a chance de se redimir e transformar “cidadãos de bem” fardados em criminosos.
Porque há famílias de desaparecidos pelas mãos das polícia em Alagoas silenciadas pela dor e o temor.
Até quando?
Alberto Luiz Monteiro Xavier Lins, de 18 anos, por exemplo. O corpo dele foi encontrado em 27 de abril.
No dia do sumiço, 12 policiais foram à casa da mãe dele atrás de outro filho dela, de 16 anos. A mãe perguntou o que estava havendo. “Nada, mas quando a gente encontrar seu filho Adalberto vai acontecer”. Quando os policiais saíram, disse ela, Alberto vinha a caminho. “Eu não vi, o pessoal da redondeza disse que ele foi abordado. E daí eu não vi mais”, explicou a mulher.
Humberto Thiago de Araújo Neto, 23, sumiu em 20 de março, após ser abordado por policiais do Batalhão de Polícia de Trânsito (Bptran). Ele estava com outro jovem, próximo ao Parque da Pecuária, no bairro do Prado, em Maceió. Ambos foram abordados por homens encapuzados. Eles pediram reforço, quando veio um carro do Bptran.
O Ministério Público disse, na época, não ter dúvidas: militares estavam envolvidos no sumiço de Humberto. O corpo não foi encontrado.
Oficialmente, são 132 pessoas desaparecidas em Alagoas somente em 2018 por muitos motivos.
Mas, quantas “sumiram” pelas mãos do Estado, instrumentalizadas pela PM?
Quem dá apoio a esta parte da PM que carrega essa “licença para matar”?
Como vivemos em uma democracia- e a pena de morte não é oficializada nas leis mas existe na prática contra aquele público clássico- é possível que a tragédia dos desaparecidos tendo a polícia como executora da “limpeza social” seja bem maior.
Sim, porque o medo de denunciar existe.
Ou será que dá para ignorar o medo e estes desaparecidos?
(O artigo publicado no dia 26/05/18 no Portal Repórter Nordeste pode ser conferido clicando aqui)
*É formado em Jornalismo pela Ufal. Odilon Rios atua na profissão há 17 anos e acumula experiência no jornal impresso, rádio, TV e sites de notícias. Também é correspondente em Alagoas de grandes jornais e portais de notícias
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